Quem ouve o som enérgico do Extreme, marcado pelas guitarras virtuosas de Nuno Bettencourt e pelos vocais cheios de presença de Gary Cherone, talvez não imagine que o maior sucesso da banda está bem distante do peso e da rebeldia típicos do hard rock. No meio de riffs furiosos, batidas aceleradas e um toque inusitado de funk metal, surge uma canção acústica, delicada e apaixonada: "More Than Words".
Lançada em 1990 no disco "Pornograffitti", a faixa virou um clássico instantâneo — e uma espécie de paradoxo dentro da discografia da banda. Enquanto o álbum despejava energia em faixas como "Decadence Dance" e "Get the Funk Out", essa balada despretensiosa, guiada apenas por violão e vozes, conquistava o coração de ouvintes no mundo inteiro.
Passadas mais de três décadas, "More Than Words" segue firme no imaginário coletivo. No Spotify, a música já ultrapassou 750 milhões de reproduções, número que sobe para mais de 800 milhões se considerarmos a versão remixada. É um feito raro para uma faixa que, segundo o próprio vocalista Gary Cherone, se tornou “maior do que a banda”.
Uma bênção disfarçada?
Em entrevista concedida ao site Songfacts em 2023, Cherone refletiu sobre o impacto de "More Than Words" na trajetória do Extreme. Para ele, o sucesso da canção teve dois lados. “Foi o veículo para o nosso sucesso. Trouxe muitas pessoas para a banda. Até hoje, isso ainda acontece”, comentou. Ao mesmo tempo, ele reconhece que a popularidade da faixa acabou gerando uma imagem distorcida do que o grupo representa musicalmente.
“Houve uma época em que achávamos que era uma bênção e uma maldição. Era uma balada, mas se tornou tão grande que era maior do que a banda. As pessoas conhecem a música e não sabem quem a faz”, completou Cherone.
O poder da simplicidade
Apesar do dilema, "More Than Words" nunca deixou de ser especial para os integrantes da banda. Ao contrário: com o tempo, eles abraçaram a canção como parte essencial de sua identidade artística. “Ainda gostamos de cantá-la. Em termos de letra, acho que ela se mantém. As ações falam mais alto do que as palavras”, afirmou o vocalista, revelando ainda que a música tem um lado biográfico que a torna ainda mais pessoal.
Essa conexão emocional também se manifesta nos palcos. De acordo com o site Setlist.FM, "More Than Words" é a segunda música mais tocada ao vivo pelo Extreme — atrás apenas da explosiva "Get the Funk Out", que, ironicamente, está mais alinhada com a sonoridade pesada da banda.
Um hit atemporal
No fim das contas, "More Than Words" é mais do que um hit romântico dos anos 90. É um símbolo de como a música pode transcender rótulos, estilos e até mesmo seus criadores. Ela fala sobre o amor que vai além das palavras — e talvez seja justamente por isso que ressoa até hoje, com a mesma intensidade de quando foi lançada.
Enquanto o Extreme segue sua trajetória com riffs afiados e atitude rock’n’roll, "More Than Words" permanece como um lembrete suave de que, às vezes, tudo o que é preciso é um violão, uma voz sincera e uma mensagem que fale direto ao coração.
Redação / Whiplash