Antes de se tornarem sinônimos de mistério, capacetes e silêncio pós-fama, os franceses do Daft Punk cravaram seu maior hit comercial com “One More Time”, lançada em novembro de 2000.
O single, que depois ganhou lugar de destaque no álbum Discovery (2001), é uma das faixas mais reconhecíveis da virada do século — não apenas pelo refrão chiclete ou pelos vocais processados de Romanthony, mas por todo o imaginário que o duo construiu ao seu redor.
Na prática, a canção é uma aula de repetição com intenção. Com uso intensivo de auto-tune e compressão, a voz de Romanthony se dissolve numa camada quase instrumental, mais próxima da batida do que de uma performance vocal tradicional. É um efeito que hoje soa familiar, mas que, na época, ainda causava estranhamento — e antecipava tendências que viriam a dominar o pop nas décadas seguintes.
Há quem aponte um sample não-creditado da faixa “More Spell on You”, de Eddie Johns. O próprio Thomas Bangalter chegou a negar o uso, mas a discussão persiste, alimentando o mistério e os debates sobre a ética do sample invisível na música eletrônica.
Longe de ser apenas um sucesso radiofônico, “One More Time” se espalhou por outros formatos: trilha da animação sci-fi Interstella 5555, presença nos games Boogie (Wii) e SingStar (PS3), e até versão cover com vocais de Yardi Don, lançada por Marc Mysterio. Foi também uma das raras músicas do duo a furar a bolha nos Estados Unidos — alcançando a 61ª posição na Billboard Hot 100, além do segundo lugar nas paradas britânicas.
Mais de duas décadas depois, “One More Time” ainda parece resistir ao tempo. Ou, talvez, esteja mesmo condenada — no melhor sentido — a se repetir para sempre.
