Lançada em 1994 no álbum Cor de Rosa e Carvão, a canção "Na Estrada", de Marisa Monte, permanece, após 31 anos, como um ponto de contato entre deslocamento, espera e o afeto. Escrita em parceria com Nando Reis e Carlinhos Brown, a música nasceu durante uma viagem à Bahia, território fértil de criação e colaboração entre os três artistas, e marcou uma das diversas aproximações que mais tarde resultariam no grupo Tribalistas.
Desde seu lançamento, "Na Estrada" ocupa um lugar singular no repertório de Marisa. A música se estrutura em torno de uma narrativa de paciência e de saudade: alguém observa o movimento da vida e da estrada à espera do retorno de uma pessoa querida. Não se trata de uma espera passiva, mas de uma forma de atravessar o tempo com memória, identidade e desejo. A repetição dos versos reforça a condição de estar em trânsito, sem perder de vista quem se ama.
Com o passar dos anos, a canção foi adquirindo múltiplas leituras. Para alguns ouvintes, é um canto sobre o amor e a saudade. Para outros, uma metáfora da vida como caminho: a estrada que se percorre sem a certeza do que se encontra adiante. A ausência não é o vazio; é o impulso para o movimento. Há, na letra, uma espécie de pacto entre permanência e deslocamento.

A ausência não é o vazio; é o impulso para o movimento (Foto: Arte/Rádio VB)
A estética de “Na Estrada” reflete o encontro de influências distintas: a lírica introspectiva de Nando Reis, o ritmo percussivo de Brown e a sensibilidade melódica de Marisa Monte. Esses elementos dialogam com a proposta do álbum Cor de Rosa e Carvão, que estabeleceu uma ponte entre tradição e contemporaneidade da música brasileira.
Essa mesma tensão entre o lírico e o popular reaparece anos depois em canções como “Vilarejo”, outra parceria entre Marisa e os Tribalistas, que propõe uma utopia afetiva.
Marisa Monte, em entrevistas recentes, reconhece "Na Estrada" como uma de suas canções mais pessoais. Ao revisitá-la nos shows, ela percebe como a música continua se transformando a partir do público, atravessando gerações com uma escuta que se reinventa. O tempo não diminui o sentido da canção, apenas amplia suas possibilidades.
Trinta e um anos depois, “Na Estrada” ainda caminha. Entre partidas e esperas, mantém o traço de uma canção que não pretende chegar a um destino final, mas acompanhar quem ouve — onde quer que esteja.