O álbum (What’s the Story) Morning Glory? completa três décadas em 2025. Segundo disco da banda britânica Oasis, a obra funciona como um documento de época, traduzindo em riffs e versos a mistura de autoindulgência, desencanto e otimismo difuso que marcou o Reino Unido pós-Thatcher, imerso na estética da Cool Britannia.
O álbum amplia o que já havia sido esboçado em Definitely Maybe (1994), mas com uma estrutura mais direta. A ambição não é disfarçada. O Oasis queria não só ser ouvido, mas dominador. As canções não escondem sua pretensão de se tornarem hinos. "Wonderwall", "Don't Look Back in Anger" e a viagem cósmica "Champagne Supernova" foram construídas para atravessar gerações, estádios e ressacas.
"Wonderwall", 30 anos depois, é um mantra pop acidental — repetido até a exaustão, amado, odiado, reinterpretado. Uma balada de insegurança embalada como declaração. Não responde, mas cola. Uma pergunta que nunca precisou de resposta para sobreviver.
Em termos de sonoridade, a produção de Owen Morris prioriza camadas densas de guitarra, vocais frontais e composições que oscilam entre o lirismo esvaziado e a urgência cotidiana. Noel Gallagher — autor de todas as faixas — estrutura o disco como um diário de ambiguidades emocionais e frases feitas para serem repetidas. A execução de Liam Gallagher, com seu vocal rasgado e postura confrontativa, completa o gesto de insolência que o disco carrega do início ao fim.
O impacto do álbum se consolidou não apenas em vendas (superando 20 milhões de cópias), mas como símbolo da disputa entre classes estéticas dentro da música britânica. No embate fictício entre Oasis e Blur, Morning Glory representava o lado pub, a rua sem glamour, o escapismo pelo excesso, enquanto os rivais vinham com ares art school.
Em um momento no qual o Britpop ameaçava se esvaziar na própria caricatura, o Oasis reagiu com uma sonoridade maior do que a vida, mesmo que não soubesse exatamente o que fazer com ela. Não há respostas próprias no álbum, mas há afirmações — mesmo quando vazias — repetidas com convicção suficiente para se tornarem verdade.
Trinta anos depois, (What’s the Story) Morning Glory? continua a ecoar como peça de resistência cultural e ruído emocional de uma juventude que queria tudo, mesmo sem saber o que tudo significava. No fim, talvez ainda seja só uma história que se repete entre acordes, poses e silêncios que gritam mais do que qualquer refrão.
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