Stephen Patrick Morrissey completa 66 anos nesta quinta-feira, 22 de maio. Nascido em Manchester, filho de imigrantes irlandeses, ele segue como um dos nomes mais controversos, cultuados e dissonantes da história da música britânica. Sua trajetória é a de alguém que nunca quis pertencer, mas que, ironicamente, construiu um império justamente sobre a identificação dos deslocados, dos solitários, dos que vivem nas margens da aceitação.
Se o punk disse que qualquer um poderia ter uma banda, Morrissey ensinou que qualquer um poderia transformar suas próprias neuroses, dores e obsessões em um manifesto estético. Com os Smiths, entre 1982 e 1987, desenhou a trilha sonora das ansiedades de uma geração inteira — guitarras intensas de Johnny Marr em contraste com letras que falavam sobre rejeição, isolamento e uma Inglaterra que parecia cinza demais para quem ansiava cor.
Mas sua carreira solo, iniciada logo após o fim dos Smiths, não foi menos simbólica. Álbuns como Viva Hate (1988), Your Arsenal (1992) e You Are The Quarry (2004) mostram que sua persona — arrogante, frágil, romântica, ressentida, sarcástica — não se esgotou na primeira década de sucesso. Morrissey segue reinterpretando seus próprios fantasmas, muitas vezes cutucando feridas sociais, culturais e políticas, ainda que colecione polêmicas, cancelamentos e discursos que colocam à prova a paciência de seus antigos devotos.
Aos 66 anos, Morrissey permanece como um corpo estranho no universo pop. Um artista que parece atravessar o tempo com a convicção de que jamais será compreendido por completo — e talvez nunca tenha tentado ser. Seus shows seguem como uma espécie de ritual: há quem vá para ouvir hinos da melancolia e há quem vá para testemunhar a performance de um homem que, mesmo quando parece estar em ruínas, sabe ser monumento.
Porque amar Morrissey, afinal, sempre foi sobre isso: saber que nem toda beleza é confortável, que nem todo ídolo quer ser amado e que, no fim, talvez sejamos todos — como ele canta — "still ill".
Morrissey segue atravessando gerações como um ponto de referência incontornável para a música alternativa e a cultura pop. Seu impacto não se limita às melodias melancólicas e às letras cortantes — ele moldou um imaginário estético que influencia da moda indie ao cinema de autores inquietos. O topete icônico, os paletós de alfaiataria, as flores no bolso e a atitude blasé viraram arquétipos replicados nas subculturas desde os anos 80 até hoje.
Na música, seu legado ecoa em bandas que vão do britpop ao pós-punk revival, passando pelo indie rock contemporâneo. E, enquanto houver quem precise de trilhas sonoras para os dias cinzentos, as canções de Morrissey seguirão como abrigo — desconfortável, por vezes —, mas absolutamente necessário.
#Morrissey66Anos