Plebe Rude e o grito de um concreto que rachou
Produzido por Herbert Vianna, o álbum foi lançado no formato de mini LP com sete faixas.
Por LockDJ
Publicado em 24/05/2025 07:00
Música
A Plebe Rude surgiu no mesmo ambiente da chamada “Turma da Colina” (Foto: Divulgação)

O surgimento da Plebe Rude se conecta diretamente ao cenário cultural e social de Brasília nos anos 1980, período marcado pela consolidação do chamado “rock Brasil”. A capital federal, que nasceu projetada, carregava também contradições sociais evidentes, refletidas na juventude que transitava entre a rigidez arquitetônica e as tensões políticas do país ainda em processo de abertura democrática.

 

A Plebe Rude surge no mesmo ambiente da chamada “Turma da Colina”, coletivo de músicos e artistas que fomentou o nascimento de algumas das mais expressivas bandas do rock nacional, como Legião Urbana e Capital Inicial. As reuniões nos blocos estudantis da Universidade de Brasília (UnB) e nos setores residenciais da cidade se transformaram em espaços de troca, ensaio e resistência cultural.

 

O álbum O Concreto Já Rachou, lançado em 11 de fevereiro de 1986, marca o primeiro registro fonográfico da banda. Produzido por Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, o trabalho foi lançado no formato de mini LP com sete faixas. Seu lançamento aconteceu com duas apresentações na boate Noites Cariocas, no Rio de Janeiro, nos dias 14 e 15 de fevereiro de 1986.

 

A obra se tornou o maior sucesso comercial da Plebe Rude, atingindo a marca de disco de ouro, com cerca de 200 mil cópias vendidas. As faixas “Até Quando Esperar” e “Proteção” rapidamente ganharam espaço nas rádios e se consolidaram como hinos de uma juventude inconformada com o cenário político e social da época.

 

O álbum reflete a estética do punk rock, com letras que tratam da insatisfação social, da crítica ao sistema e do retrato das angústias urbanas. A música “Brasília” faz uma referência direta ao contexto da própria cidade, enquanto “Johnny Vai à Guerra (Outra Vez)” dialoga com a tradição do punk político global, ao abordar temas como violência e alienação.

 

Entre os convidados estão Herbert Vianna, que participa na faixa “Minha Renda”, e Fernanda Abreu, que faz participação em “Sexo e Karatê”. As colaborações refletem o cruzamento entre a cena punk de Brasília e outros movimentos musicais que emergiam no Brasil naquele período.

 

O álbum passou a ser executado integralmente em diversos shows da banda, reflexo tanto da sua curta duração quanto da força que cada uma das faixas exerce sobre seu público. Essa relevância permanece viva décadas depois. Em 2011, o disco foi relançado junto aos álbuns de estreia da Legião Urbana (1985) e do Capital Inicial (1986), reforçando a importância desse recorte histórico da música brasileira.

 

A obra também figura em listas de referência, como os 100 maiores discos da música brasileira da revista Rolling Stone — ocupando a 57ª posição — e o livro Os 500 Maiores Álbuns Brasileiros de Todos os Tempos, organizado por Ricardo Alexandre, onde aparece na 126ª colocação.

 

O Concreto Já Rachou sintetiza um momento em que Brasília deixou de ser apenas o centro político do país para se transformar em um polo irradiador de cultura, resistência e expressão juvenil através do rock.

 

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