Após 40 anos, “Revoluções por Minuto” ainda ecoa nas esquinas do Brasil urbano
Áçbum trouxe uma sonoridade que, para, parecia aterrissada diretamente de Berlim, Londres ou Nova York.
Por LockDJ
Publicado em 25/05/2025 17:55 • Atualizado 25/05/2025 17:57
Música
O disco foi um estouro comercial e vendeu mais de 3 milhões de cópias (Foto: Reprodução)

Em maio de 1985, o Brasil atravessava uma ressaca política, recém-saído da ditadura, e um país que tateava a própria liberdade, buscando se entender numa mistura desconexa de democracia, inflação, contracultura e sonhos coletivos. Foi nesse cenário que surgiu Revoluções por Minuto, o primeiro álbum da banda RPM — um manifesto que não se escondia atrás de metáforas.

 

O disco não foi só um estouro comercial — mais de 3 milhões de cópias vendidas — mas uma verdadeira bomba sensorial para uma geração que via no rock nacional dos anos 80 uma ferramenta para decifrar os códigos de um país em transição. Era muito mais do que música: era linguagem urbana, política e existencial comprimida em sintetizadores, baterias eletrônicas e riffs que não pediam licença.

 

Baile eletrônico com cheiro de concreto

 

Revoluções por Minuto trouxe uma sonoridade que, para os ouvidos da época, parecia aterrissada diretamente de Berlim, Londres ou Nova York. O som era frio, sintetizado, eletrônico. Mas, curiosamente, não perdia aquele sotaque paulistano de concreto, asfalto, ansiedade e cafeína.

 

Faixas como “Olhar 43” não são apenas hinos de pista: são crônicas das relações líquidas, das conquistas, dos encontros e desencontros nos bares, boates e esquinas das cidades grandes. Já “Rádio Pirata” — que se tornaria quase uma declaração de princípios — capturava o espírito de resistência, a necessidade de ocupar espaços, de fazer barulho onde não havia permissão.

 

 

E, enquanto isso, “Louras Geladas” desenhava um mapa afetivo e etílico de quem buscava algum tipo de conforto em copos, bares e olhares perdidos no meio da madrugada.

 

Quando a crítica encontrou a pista de dança

 

O RPM conseguiu algo raro: injetou discurso político na lógica do pop. As linhas de baixo que quase soavam industriais e os teclados que pareciam saídos de trilhas cyberpunk se entrelaçavam a letras que não deixavam muito espaço para dúvidas — falavam de opressão, censura, paranoia e vazio existencial. Tudo embalado como hit.

 

O Brasil, que então descobria sua própria versão da década perdida, se reconhecia nas distorções e ecos de uma música que parecia anunciar que não seria tão simples reprogramar o país após anos de chumbo.

 

Quatro décadas depois: ruínas e neon

 

Quarenta anos depois, o Revoluções por Minuto ainda soa urgente, principalmente porque o Brasil nunca deixou de viver pequenas e grandes revoluções — algumas estéticas, outras simbólicas, muitas delas ainda inconclusas.

 

Ouvir esse álbum hoje não é apenas um exercício nostálgico, é quase uma arqueologia emocional. É revisitar um tempo em que os sintetizadores dialogavam com a esperança, em que a música ainda acreditava ser possível hackear o sistema, mesmo que fosse só com refrões, riffs e beats sintéticos.

 

O fato é que, quatro décadas depois, Revoluções por Minuto ainda pulsa. Porque certas revoluções nunca acabam — apenas mudam de BPM.

 

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