O filme Fé Para o Impossível, recém-chegado à Netflix, transforma uma tragédia pessoal em discurso coletivo. A produção percorre a história real de Renee Murdoch, uma pastora norte-americana que vive no Brasil e, em 2012, teve sua rotina brutalmente interrompida após ser atacada durante uma corrida na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
A obra, dirigida por Ernani Nunes e baseada no livro Dê a Volta por Cima, escrito pela própria Renee e seu marido, Philip Murdoch, reconstrói não apenas os eventos físicos do trauma, mas também o caminho intangível que percorre a fé, o medo, a vulnerabilidade e a resistência.
O roteiro acompanha Philip (Dan Stulbach) enquanto ele transforma o desespero em mobilização. A tragédia deixa de ser apenas um drama íntimo e se espalha nas redes, nas igrejas, nas ruas e nas correntes de oração, atravessando a fronteira entre o privado e o público. É nesse espaço que o filme se ancora: não no milagre como espetáculo, mas na forma como a comunidade reage diante da finitude.
Vanessa Giácomo assume o desafio de dar corpo a Renee, enquanto o elenco complementa a proposta, que não se resume a relatar um acontecimento, mas a provocar reflexão sobre os vínculos que nos sustentam quando o chão desaba.
A narrativa não se limita à dor ou ao sensacionalismo do fato. Ela se desloca para outro eixo: o da potência de um coletivo que não permite que a esperança adormeça. O filme questiona, ainda que de maneira sutil, quais são as fronteiras da solidariedade, da fé e do amparo em um país onde a violência urbana é cenário recorrente.
Na trilha, a música composta por Eli Soares funciona como uma extensão do enredo, conectando a jornada física à dimensão simbólica da cura.
Fé Para o Impossível é, antes de tudo, um convite a observar o que fazemos com aquilo que não controlamos — e como transformamos o impossível em matéria de recomeço.