Lançado em 1995, o disco Gol de Quem? marcou a estreia da banda mineira Pato Fu no cenário musical brasileiro. Composto por faixas autorais e releituras, o álbum surge como uma síntese das influências que moldaram a identidade do grupo, articulando referências do rock alternativo com uma linguagem pop e acessível. Trinta anos após seu lançamento, a obra continua sendo um retrato do espírito de experimentação e independência que caracterizou o circuito musical dos anos 1990 no Brasil.
O disco apresenta composições que oscilam entre o humor, o cotidiano e a crítica social sutil, refletindo uma proposta estética que evita excessos e foca na leveza das ideias. A voz de Fernanda Takai, já nesse primeiro trabalho, assume papel central, embora dividida com a presença de John Ulhoa nos vocais e nas guitarras. Canções como “O Processo da Criação” e “Qualquer Bobagem” — esta última uma versão da música de Tom Zé e Rogério Duprat — revelam uma disposição da banda em dialogar com a tradição da música experimental brasileira.
Outro destaque do álbum é a presença de instrumentos pouco usuais no rock convencional, como o theremin e o trompete, que se somam à guitarra distorcida e à base eletrônica em algumas faixas. Essa mescla instrumental contribui para a proposta de um som híbrido, que, apesar de não seguir uma linha única, carrega uma coerência narrativa que acompanha toda a obra.
O título Gol de Quem? alude a uma frase comum nas transmissões de futebol, e funciona como uma metáfora para a própria postura do grupo diante do mercado musical: questionadora, irônica e aberta à ambiguidade. Lançado de forma independente e distribuído posteriormente pela Cogumelo Records, o disco teve repercussão significativa dentro do circuito alternativo da época, sendo frequentemente associado ao ressurgimento do rock autoral fora do eixo tradicional Rio-São Paulo.
Três décadas depois, o álbum é lembrado como ponto de partida de uma das bandas mais persistentes e criativas da cena brasileira contemporânea. Revisitar Gol de Quem? em 2025 é não apenas relembrar o início do Pato Fu, mas também um momento específico da música brasileira, em que o fazer musical independente começava a se articular com mais força, abrindo caminho para novas linguagens e formas de produção.
Relembre abaixo "Sobre o Tempo", um dos maiores clássicos da banda Pato Fu.