Lançado em outubro de 2000, All That You Can’t Leave Behind marca um ponto de inflexão na trajetória do U2. Após uma década de experimentações eletrônicas e estéticas nos anos 1990 — com álbuns como Zooropa e Pop — a banda irlandesa sinalizou uma espécie de retorno ao formato canção mais centrado no rock melódico, explorando sonoridades mais orgânicas e letras introspectivas.
Produzido por Brian Eno e Daniel Lanois — dupla com histórico de longa colaboração com o grupo — o álbum possui uma construção sonora que combina arranjos climáticos, ambiência controlada e foco narrativo nas linhas vocais de Bono.
O disco abre com "Beautiful Day", faixa que se tornou um dos grandes marcos comerciais da carreira da banda, sustentada por uma base harmônica simples e um refrão expansivo que impulsionou o álbum nas rádios e premiações.
O trabalho também evidencia um esforço lírico para lidar com temas de perda, permanência e redenção. Faixas como “Stuck in a Moment You Can’t Get Out Of”, inspirada na morte do amigo e vocalista Michael Hutchence, e “Walk On”, dedicada a Aung San Suu Kyi, operam em registros distintos, mas compartilham uma tentativa de tradução emocional dos impasses e lutas do final do século XX.
A presença do piano, de texturas eletrônicas discretas e dos delays característicos da guitarra de The Edge imprimem uma coesão sonora que se distancia das ousadias sonoras do período anterior, mas sem abandonar por completo as marcas da década anterior. Nesse sentido, All That You Can’t Leave Behind não é exatamente um retorno às origens, mas uma síntese estilizada das diversas fases anteriores do U2.
Com mais de 12 milhões de cópias vendidas e prêmios como os Grammys de Melhor Álbum de Rock e Melhor Canção do Ano, o disco representou também uma reafirmação comercial. A turnê Elevation, que acompanhou o lançamento, apostou em um formato mais intimista — ao menos em comparação às megaestruturas visuais da turnê PopMart — o que ajudou a fortalecer a ideia de reencontro do grupo com sua base.
Vinte e cinco anos depois, All That You Can’t Leave Behind permanece como um ponto de reconfiguração na discografia do U2. Não apenas pela resposta da crítica ou pela aclamação comercial, mas pela forma como encapsulou um momento de transição — tanto da banda quanto do mundo ao seu redor — às vésperas do 11 de Setembro e de uma nova década marcada por incertezas políticas, guerras e transformações culturais.