“Psycho Killer” surge como um sussurro desconcertante vindo das sombras urbanas do final dos anos 1970. Lançada em 1977, essa música do Talking Heads é muito mais do que uma canção – é uma viagem à mente de alguém que observa o mundo de dentro para fora, como um predador entediado e existencialista.
David Byrne não canta. Ele confessa, em frases partidas e uma entrega contida, a essência de um personagem que não se encaixa, mas se destaca. O ritmo motorik e a batida seca do baixo se unem a linhas de guitarra que quase soam cortantes, criando um ambiente que é tanto de tensão quanto de compulsão. Uma linha de baixo obsessiva, quase monótona, reforça a psicose dançante que ecoa pela faixa. A música é um convite para dançar no fio da navalha.
A alternância de idiomas, com o refrão em francês, “Qu’est-ce que c’est?”, é um aceno para o deslocamento: nada aqui é familiar. O assassino fictício está em toda parte e em lugar nenhum, movendo-se pelas margens dos pensamentos do ouvinte. No final, a voz de Byrne, quase teatral, transforma cada verso em uma performance de controle e desordem.
“Psycho Killer” não é só um retrato de um personagem à deriva. É também um reflexo do estranhamento social que a nova cena punk e pós-punk estava apenas começando a explorar. Essa é a trilha sonora de uma mente à beira do colapso, mas ainda capaz de compor uma batida viciante. Um hino para quem nunca quis pertencer – ou sempre suspeitou que ninguém pertencia a nada.