A cena final de The Sopranos crava seu lugar no panteão da cultura pop, e muito disso se deve à presença inesperada e, ao mesmo tempo, exata, de “Don’t Stop Believin’”, do Journey. Quando Tony Soprano escolhe a música na jukebox, ela se torna um feixe de luz em meio a um ambiente carregado de tensão e de pistas que sugerem que algo maior e mais sombrio pode acontecer a qualquer momento.

Lançada em 1981, a balada do Journey carrega um espírito otimista que, dentro da narrativa dos Sopranos, cria um contraste quase irônico. A letra parece ecoar a dualidade da série e a incerteza do destino de Tony: “Some will win, some will lose”. Essa justaposição de esperança e ambiguidade reflete o jogo mortal que o personagem sempre viveu.

David Chase, o criador da série, nunca deixou de lado a música como personagem: cada canção ao longo das seis temporadas ajudou a esculpir o mundo e a psique dos personagens, culminando nesse momento final que se recusa a dar respostas.

Ao longo dos anos, The Sopranos não apenas redefiniu o que a televisão poderia ser, mas também costurou referências e paixões musicais em cada fio narrativo. A escolha de “Don’t Stop Believin’” como último ato pode soar como um comentário sobre Tony e seu universo, mas também define a própria série e sua recusa em oferecer conclusões fáceis.

A decisão de Chase de encerrar sem avisar, no meio da música, no meio de um verso, torna a canção e a série inseparáveis, como se dissessem ao espectador que a vida — e a narrativa — simplesmente continua.

O legado de The Sopranos transcende a TV e reverbera como um estudo da cultura, da masculinidade e do poder. E agora, também, como um dos momentos mais emblemáticos da música pop aplicada à dramaturgia televisiva. Journey, Tony, Carmela, o restaurante: juntos, eles criam um mosaico que nunca termina, ecoando na mente do público muito depois do fade-out abrupto.

As seis temporadas da série The Sopranos estão disponíveis na plataforma MAX.

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