“Charades, pop skill, eater hyacinth, named by a poet,” canta Michael Stipe, e é assim que “Imitation of Life”, do R.E.M., inicia sua dança sobre as ilusões que a cultura pop e o cotidiano oferecem. Lançada em 2001, a faixa se ergue como uma reflexão meticulosa sobre máscaras e fachadas, impulsionada pelos loops coloridos e dinâmicos de “Reveal”. Mas há camadas mais profundas a desfiar.
O título ressoa direto com o romance de 1933 de Fannie Hurst, “Imitation of Life”. No livro, questões de identidade, raça e a teatralidade de uma vida que parece sempre ser de outra pessoa – ou de outra história – são alinhavadas com uma prosa que expõe o desconforto de viver para agradar. A música do R.E.M. carrega essa mesma pergunta: onde termina a verdade e começa a encenação?
Em vez de narrar uma saga grandiosa, “Imitation of Life” prefere a sutileza. O R.E.M. revisita aqui os devaneios de quem molda a própria imagem para o consumo externo – tanto faz se é um personagem de um livro, um papel de cinema ou a persona que carregamos no dia a dia. É um ato de observação crítica, sem oferecer respostas fáceis. Os versos de Stipe ecoam uma tradição de contadores de histórias que preferem a ambiguidade à pregação.
No clipe que acompanha a música, a ironia se projeta em loops visuais infinitos, repetindo gestos e expressões como se a vida fosse um carrossel. E talvez seja: a canção lembra que, em cada volta, estamos sempre copiando algo – ou alguém – que nos parece mais autêntico do que nós mesmos.
“Imitation of Life” marca o R.E.M. já em uma fase madura, mas ainda curioso, disposto a revisitar a cultura que alimentou suas próprias canções e a arte que insiste em nos moldar. É o som de quem sabe que toda grande história – seja em romance, música ou na vida – carrega algo de imitação e algo de verdade, embaralhados para sempre.