Quarenta anos do grito: Legião Urbana e o início do rock de Brasília
A produção do álbum é crua, direta, e funciona como um recorte daquela cena brasiliense que respirava punk, post-punk e um ar de vanguarda.
Por LockDJ
Publicado em 06/06/2025 09:59 • Atualizado 06/06/2025 09:59
Música
A Legião Urbana surgiu no calor das reuniões da Turma da Colina (Foto: Reprodução)

Quarenta anos depois do lançamento do primeiro disco da Legião Urbana, ainda ecoa o som de uma Brasília em ebulição, onde garotos de vinte e poucos anos decidiram trocar a desordem pelo grito, a revolta pela palavra cantada. O álbum homônimo foi lançado em 1985, mas começou a nascer muito antes, entre ruínas de ditadura e a batida seca das baterias do Aborto Elétrico.

 

A Legião Urbana surgiu no calor das reuniões da Turma da Colina, onde moleques famintos por som e contestação trocavam fitas, livros e ideias. De lá saíram acordes que virariam hinos, e a convicção de que rock era muito mais do que música: era um manifesto de quem buscava sentido e identidade. No meio da confusão de bandas como Plebe Rude e Capital Inicial, a Legião surgia como ponto de convergência — o lugar onde poesia e fúria se encontraram.

 

O disco de estreia carrega no vinil o peso desse início: "Será", "Geração Coca-Cola", "Ainda É Cedo" — todas surgidas na fase em que Renato Russo, antes de virar O Trovador Solitário, ainda carregava nos ombros a bateria do Aborto Elétrico. Aquelas letras que falam de amor e raiva, de desencanto e esperança, são crônicas de quem viu Brasília erguer seus palácios e, ao mesmo tempo, desmontar ilusões.

 

 

A produção é crua, direta, e funciona como um recorte daquela cena brasiliense que respirava punk, post-punk e um ar de vanguarda. Gravado em São Paulo, o álbum nasceu de sessões tensas e noturnas, mas carrega a marca do que era feito nos porões do Planalto: letras afiadas, baixo pulsante de Renato Rocha, bateria sólida de Marcelo Bonfá e as guitarras de Dado Villa-Lobos que soam como lamentos e chamados.

 

Quarenta anos depois, o primeiro disco da Legião Urbana permanece como um marco. Não é só um retrato da década de 80, mas o anúncio de que, entre a poeira e o concreto, ainda restavam vozes que não calavam. Um disco que ainda fala com quem, de fone no ouvido, sente que é preciso gritar — mesmo que seja só pra si mesmo.

 

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