Em maio de 1985, há exatos 40 anos, o Kid Abelha e Os Abóboras Selvagens lançou Educação Sentimental, um disco que se tornou um marco do pop rock brasileiro ao explorar a juventude como um terreno fértil para as descobertas e para as dores que só o amadurecimento traz. O título, inspirado na obra de Flaubert, já sinalizava a ambição de dialogar com algo além do cotidiano imediato, criando um álbum que, mesmo ancorado em sintetizadores e guitarras da época, conversava com as ansiedades e as esperanças de quem se aventurava a sair da casa dos pais e a enfrentar o mundo.
Canções como “Lágrimas e Chuva”, evocando o monólogo final de Blade Runner, e “Garotos” transformaram o álbum em um retrato de transições: do primeiro amor à primeira frustração, da dependência à autossuficiência.
“A Fórmula do Amor”, regravada do repertório de Léo Jaime, serve de elo entre o que se aprende com o outro e o que se inventa na própria trajetória.
“Os Outros” encontra o equilíbrio entre o desencanto e a reflexão sobre o que significa perder alguém para o espaço social que nos cerca. A canção traz versos que lembram a fragilidade de relações que se desfazem não por falta de afeto, mas pelo peso das convenções e das comparações externas — um retrato de como a vida amorosa se rende, muitas vezes, à necessidade de aceitação alheia.
A produção de Liminha e o toque de Leoni, que deixaria a banda depois desse disco, estruturaram um som que ficou na intersecção entre o pop, o rock e o espírito de uma década que se dividia entre a rebeldia e a nostalgia.
Se na época o disco enfrentou a resistência crítica que mirava a “cena carioca” com desconfiança, as décadas seguintes provaram que as canções de Educação Sentimental seguem vivas, encontrando eco em quem se reconhece na liberdade e nos tropeços que definem qualquer rito de passagem.