"Oeste Outra Vez", um western brasileiro que troca a pólvora pela saudade
Filme traz um retrato de homens deslocados, buscando no horizonte uma redenção que talvez nunca venha.
Por LockDJ
Publicado em 11/06/2025 12:09 • Atualizado 11/06/2025 12:11
Entretenimento
Ângelo Antônio em cena do filme Oeste Outra Vez (Foto: Divulgação)

Escrito e dirigido por Erico Rassi, Oeste Outra Vez — premiado no Festival de Gramado e agora disponível no catálogo do Telecine — é como um drink forte que nos deixa embriagados não pela violência, mas pela solidão. Imagine um faroeste em que as balas são substituídas por silêncios e a poeira do deserto por um sertão que suspira saudade. Ângelo Antônio e Babu Santana, Totó e Durval, estão mais para cowboys cansados do que para pistoleiros. A mulher que os unia se foi, e resta a eles um duelo de vaidades e frustrações, sem revólver à vista — apenas o peso das próprias culpas.

 

Mas não espere aqui a testosterona clássica de John Ford ou o romantismo seco de Leone. O que Rassi propõe tem muito mais a ver com o Paris, Texas de Wim Wenders: um retrato de homens deslocados, buscando no horizonte uma redenção que talvez nunca venha. E, como em Paris, Texas, a paisagem também conta história. Carol Tanajura, na direção de arte, e André Carvalheira, na fotografia, transformam o sertão goiano em algo quase mítico. Tons pastéis, planos abertos que ressoam a solidão e a poesia da vida interiorana.

 

Há humor, mas é um tom melancólico, de quem sabe que não existe bala de prata para a saudade. A presença de Jerominho (Rodger Rogério) e a participação de Antonio Pitanga como Ermitão são o toque de sabedoria de quem já entendeu que o oeste — seja no Arizona ou em Goiás — sempre vai ter mais silêncio do que barulho. Pitanga, lenda viva, resume o espírito do filme: “É um Oeste que não é americano, é brasileiro”. Uma reinvenção de um gênero que costumava medir masculinidade a cada disparo.

 

Ângelo Antônio e Babu Santana dividem cenas em "Oeste Outra Vez" (Foto: Divulgação)

 

A trilha sonora é outro detalhe que beira a genialidade: “Tudo Passará”, de Nelson Ned, escorre pelos diálogos e pelas paisagens como um lamento suave, quase um bolero que embala as angústias desses homens. Porque no fundo é disso que o filme fala: de homens que, ao dividirem doses de cachaça e limão, tentam entender onde erraram — e se erraram mesmo, ou se apenas foram atropelados pelas circunstâncias.

 

 

No final, Oeste Outra Vez não é sobre duelos ou sobre amores perdidos. É sobre a beleza triste de seguir andando, mesmo que o horizonte seja um espelho rachado de si mesmo. É cinema brasileiro que reconhece a força das nossas dores e que tem coragem de falar baixinho, mas dizendo tudo.

 

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