Poucas bandas carregam no nome a ironia que descreve também sua missão. O Social Distortion, fundado no fim dos anos 1970 por Mike Ness em Fullerton, Califórnia, nunca teve intenção de entreter. Era um ruído social, uma distorção cultural que rompia com a estética dos bons modos, e criava, sem saber, uma linhagem de desajustados melódicos.
Nasceu do punk cru, mas não ficou lá. Como se o The Clash tivesse enveredado pela estrada poeirenta de Johnny Cash, o Social D traçou um caminho que misturou riffs secos, country, blues e rockabilly — não para parecer algo, mas porque o sentimento exigia novas formas.
Em “Story of My Life”, talvez seu epitáfio antecipado, Ness canta sobre o tempo como um muro que se fecha:"High school seemed like such a blur, I didn’t have much interest in sports or school elections…"
É o anti-herói de Springsteen, mas sem carro conversível. Um cronista das cicatrizes cotidianas, que se recusa a suavizar a dor para torná-la consumível.
O Social Distortion é trilha sonora para quem não se encaixa nem no radicalismo do punk nem na nostalgia do rock clássico. É estrada reta, sem GPS, com paradas em bares de beira de pista e encontros com fantasmas do passado. E é também um aceno aos que vieram depois — Rancid, Offspring, até Pearl Jam — bandas que viram em Mike Ness não só um cantor, mas uma espécie de operário da desilusão americana.
Ao longo dos anos, o grupo não reinventou a roda. Apenas continuou girando com ela. E talvez seja isso que faça da banda mais do que relevante: ela permanece necessária.
Porque enquanto houver alguém dirigindo à noite, com a alma cheia de histórias que não cabem num status, Story of My Life vai continuar tocando. Sem refrão otimista. Sem redenção. Apenas a verdade, entre uma batida de caixa e um acorde sujo.