Em 1995, Eu e Memê, Memê e Eu marcou a discografia de Lulu Santos ao lançar mão da nostalgia como matéria-prima e da pista de dança como território emocional. Três décadas depois, o álbum permanece como um registro de transição entre o romantismo do pop nacional e o impacto da cultura de remixagem global que já moldava os anos 1990.
O disco, o décimo segundo da carreira de Lulu, não se propunha a trazer inéditas – ainda que tenha incluído Sereia, canção composta em 1984 por Lulu e Nelson Motta para o especial infantil Plunct Plact Zuuum e reaproveitada como “nova” na trilha sonora da novela A Próxima Vítima, da TV Globo. O foco do álbum era outro: ressignificar. Nas mãos de DJ Memê, Marcello Mansur, canções já conhecidas como Casa, Tudo Igual e Toda Forma de Amor ganham nova camada sonora, incorporando elementos de house, eurodance, funk carioca e samplers comuns à estética eletrônica da década.
A proposta foi clara: fundir pop brasileiro com linguagem global de pista. O projeto contou ainda com colaborações de Sacha Amback, Alex de Sousa, DJ Cuca e Adriano DJ, nomes que ampliaram a tessitura do disco além da assinatura de Memê. Não se tratava apenas de remixar, mas de refazer trajetos afetivos por outras vias rítmicas.
Além das releituras do próprio Lulu, o álbum trouxe versões de clássicos da música brasileira como O Descobridor dos Sete Mares e Sossego, de Tim Maia, e Se Você Pensa, da dupla Roberto e Erasmo Carlos. Também Fullgás, de Marina Lima, aparece adaptada à lógica da batida contínua, mais próxima da estética de club do que da MPB radiofônica dos anos anteriores.
Lançado em CD, vinil e fita cassete, o disco vendeu mais de um milhão de cópias e se tornou febre nos meses que cercaram o Dia dos Namorados de 1995. Era comum o presente vir acompanhado de um CD e um ursinho de pelúcia – gesto que ecoava o design do encarte criado por Gringo Cardia e Muti Randolph, com fotos de pelúcias inspiradas nos ambulantes noturnos do Rio.
Três décadas depois, Eu e Memê, Memê e Eu não se lê apenas como compilação dançante. É um documento de época. Registra uma convergência entre afetividade pop e cultura remix, entre televisão aberta, novela das oito e cultura de rua. Um ponto de encontro entre o romantismo urbano de Lulu e o impulso eletrônico de um Brasil em transformação.