Com "Look Up", Ringo Starr retorna ao country por trilhos seguros
Ex-Beatle entrega um disco que acena com leveza, elegância e um senso de pertencimento à tradição musical de Nashville.
Por LockDJ
Publicado em 12/06/2025 14:31 • Atualizado 12/06/2025 14:36
Música
Ringo Starr mostra que ainda faz música com prazer genuíno (Foto: Divulgação)

Mais de cinco décadas após sua última incursão no country, Ringo Starr retorna ao gênero com Look Up, álbum lançado em janeiro de 2025 sob produção e coautoria de T Bone Burnett. Aos 84 anos, o ex-Beatle entrega um disco que, embora não revolucione os fundamentos do estilo, acena com leveza, elegância e um senso de pertencimento à tradição musical de Nashville.

 

Gravado entre Nashville e Los Angeles, Look Up reúne 11 faixas que evidenciam o caráter colaborativo do projeto. Billy Strings, Molly Tuttle, Lucius, Larkin Poe e Alison Krauss contribuem com interpretações que equilibram suavidade técnica e energia performática, ainda que sem ultrapassar o limite confortável da previsibilidade. Ringo, por sua vez, canta e toca bateria em todas as faixas — uma assinatura afetiva que vincula o trabalho à sua longa trajetória.

 

A produção de Burnett é meticulosa, discreta e centrada na ideia de transparência sonora: há um cuidado evidente em não ofuscar o calor vocal de Starr, que, embora limitado em alcance, ainda soa íntimo e simpático.

 

As composições, em sua maioria assinadas por Burnett e Daniel Tashian, investem em melodias acessíveis, letras contemplativas e um certo otimismo crepuscular — marcas de um artista que já não precisa provar nada, mas ainda sente prazer em criar.

 

A faixa de abertura, “Breathless”, com Billy Strings, é um bom exemplo do que o disco propõe: ritmo suave, instrumentação acústica rica e uma pegada que dialoga com o bluegrass sem se prender a ele.

 

 

“Look Up”, que dá nome ao álbum, aposta em uma atmosfera ensolarada ao lado de Molly Tuttle, enquanto “Rosetta” e “String Theory” flertam com uma estética mais roots, conduzidas por guitarras ressonantes e harmonia vocal sutil. Já “Thankful”, escrita com Alison Krauss, encerra o álbum com gratidão e espiritualidade, sem apelar ao sentimentalismo.

 

 

Apesar dos méritos, Look Up não evita críticas. Há uma distância entre o projeto e a alma mais visceral do country. É um produto elegante, porém contido, desprovido dos elementos essenciais do gênero. É um disco que oferece frescor e lirismo, mesmo que mutos vejam apenas conforto.

  

No fim das contas, Look Up não busca reconfigurar o legado de Ringo Starr — ele apenas o amplia em uma direção até então pouco explorada em sua carreira recente. É um disco que, mesmo sem grandes riscos, reafirma a importância de permanecer curioso, de olhar para cima e ainda desejar fazer música com prazer genuíno. E isso, vindo de alguém que já fez parte de tantas revoluções sonoras, tem seu valor.

 

 

Comentários
Comentário enviado com sucesso!