A trilogia afetuosa que usa o tempo como diálogo
Filmes de Richard Linklater são registros de transformações do desejo, da linguagem e da escuta.
Por LockDJ
Publicado em 12/06/2025 19:12 • Atualizado 12/06/2025 19:13
Entretenimento
Ethan Hawke e Julie Delpy encarnam a chamada química perfeita durante toda a projeção (Foto: Divulgação)

Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995), dirigido por Richard Linklater, é o primeiro capítulo de uma trilogia que explora o encontro, a separação e a continuidade do afeto ao longo do tempo. O filme apresenta Jesse, um jovem americano, e Céline, uma estudante francesa, que se conhecem por acaso em um trem a caminho de Viena. O que se segue é uma caminhada pelas ruas da cidade, ao longo de uma noite, em que os dois personagens compartilham pensamentos sobre a vida, a morte, o amor e o acaso.

 

A estrutura do filme rompe com a expectativa de ação convencional. Em vez disso, concentra-se no fluxo de conversa e na espontaneidade das trocas verbais. O que sustenta a narrativa é o tempo — o tempo da escuta, da fala, da hesitação, do improviso. Jesse e Céline não apenas falam: eles constroem, com palavras, um território provisório de intimidade. O espaço urbano funciona como pano de fundo, mas é o tempo que molda a relação entre eles.

 

A trilogia continua com Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset, 2004), que retoma os personagens nove anos depois. Jesse e Céline se reencontram em Paris, desta vez sob a pressão do relógio: ele tem um voo para pegar, e o tempo é ainda mais limitado. Aqui, as camadas de passado e presente se sobrepõem, e os diálogos assumem um tom mais urgente, marcado por memórias e frustrações acumuladas.

 

 

O desfecho vem com Antes da Meia-Noite (Before Midnight, 2013), ambientado na Grécia. Agora um casal com filhos, Jesse e Céline se confrontam com a rotina, as discordâncias e os acertos possíveis dentro de uma relação de longo prazo. O amor é questionado, reafirmado e desconstruído, não mais na idealização do encontro, mas na persistência da convivência.

 

 

A trilogia Before não oferece respostas. O que propõe é o registro das transformações — do desejo, da linguagem, da escuta — ao longo do tempo. Ao fazer da conversa o centro da narrativa, Linklater propõe uma reflexão sobre como o afeto se constrói nas pausas, nos desentendimentos e nas incertezas. E como, mesmo diante do aspecto temporal que corre, ainda se escolhe permanecer — mesmo que só até o próximo nascer do sol.

 

Os três filmes estão disponíveis para aluguel na plataforma Prime Vídeo.

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