Like a Rolling Stone completa 60 anos de gravação neste sábado, 14 de junho. Não é apenas de uma música de Bob Dylan. É um ponto de ruptura. Não se trata da canção mais radiofônica, nem da mais palatável. Mas talvez seja a primeira a captar, com rigor quase clínico, o colapso simbólico de uma geração. Não há refrão que ofereça consolo. Há um bordão — how does it feel? — repetido como lâmina, lançado contra o próprio ouvinte, com a indiferença dos que abandonam a pose e desmontam o jogo.
Like a Rolling Stone surge quando a década de 1960 ainda tentava definir suas margens. O folk, engajado, limpo, acusticamente moral, já não comportava a densidade que Dylan queria produzir. A guitarra elétrica entra não como acessório, mas como subversão. O órgão de Al Kooper, acidentalmente inserido na mixagem, é uma espécie de vírgula fora de lugar que passou a ser ponto. E ali, entre versos longos e dissonâncias arrastadas, uma nova estrutura se esboça — a da canção como fluxo, como desabafo, como acusação não direcionada.
O que Dylan canta é o vazio. O eu que caiu. A garota que perdeu o nome, a casa, a pose. Mas poderia ser qualquer um. No contexto das metrópoles de hoje, essa figura seria o profissional demitido com 42 anos, o influenciador em queda de engajamento, o ex-aluno de cursinho que acreditou no diploma como chave universal. Todos aqueles que, em alguma medida, foram ensinados a esperar e viram as promessas evaporarem em tempo real.
Não há drama. O tom é inquisitivo, seco, quase sociológico. Dylan olha para o outro com a frieza de quem já entendeu que não há privilégio que sobreviva intacto ao giro da roda. O título — como uma pedra que rola — opera na contramão do conforto narrativo. O movimento, que deveria redimir, apenas expõe a queda contínua.
Ao longo de seis décadas, a canção sobreviveu a todas as tentativas de encapsulamento. Não virou trilha de comercial. Não virou jingle. Mas segue assombrando discos, críticos, artistas. De Bruce Springsteen a Patti Smith, de REM a PJ Harvey, a música continua sendo citada não pela forma, mas pelo gesto: dizer o indizível, sem pedir desculpas.
O legado de Like a Rolling Stone está no risco. No rompimento com o previsível. No uso da palavra como arma, e não como ornamento. Hoje, em meio a timelines programadas, algoritmos de comportamento e fórmulas de autoajuda disfarçadas de arte, ela soa como um lembrete incômodo: quem tenta manter o equilíbrio já está caindo. E talvez não exista nada mais honesto do que essa queda.
#LikeaRollingStone #60Anos