A partir da próxima qunita-feira (26), a Globoplay estreia Raul Seixas: Eu Sou, uma série biográfica que propõe muito mais do que simplesmente narrar a vida de um ícone do rock brasileiro. A produção propõe se aventurar por um território sensível, contraditório e eletrizante: o universo interior de Raulzito. E promete fazer isso costurando memória, música e rebeldia com uma delicadeza que — se bem sucedida — pode fazer jus à complexidade de um artista que nunca coube nos moldes da indústria, nem mesmo nos próprios.
Interpretado na fase adulta por Ravel Andrade, Raul é apresentado, além de cantor e compositor, como o sujeito inquieto, o amigo visionário, o parceiro místico, o homem partido. Andrade, que já demonstrou profundidade em papéis anteriores, encara aqui o maior desafio da carreira: dar corpo, voz e alma a um personagem que é, para muitos brasileiros, mito. Ao comentar o papel, o ator é direto: “Raul era um gênio, e eu me esforcei para refletir sua complexidade e sua paixão pela vida e pela arte”.
A série, criada por Paulo Morelli e dividida com o filho Pedro Morelli, aposta em uma abordagem de imersão dramática. Nada de cronologias engessadas ou didatismo. Raul Seixas: Eu Sou percorre as várias fases do cantor — da infância em Salvador, vivida pelo promissor Pedro Burgarelli, à explosão nos festivais e aos experimentos místico-musicais com Paulo Coelho (João Pedro Zappa), com destaque para a emblemática “Sociedade Alternativa”.
O roteiro não esconde as contradições do biografado: o Raul provocador que enfrentava o sistema é o mesmo que buscava colo em seus afetos mais íntimos. A série o aproxima dos bastidores das canções que o tornaram imortal, como “Maluco Beleza”, “Metamorfose Ambulante”, “Ouro de Tolo”, e outras faíscas de liberdade que incendiaram o Brasil dos anos 1970.
Com trilha sonora essencialmente guiada pelas músicas do próprio Raul, o projeto encontra força justamente no encontro entre a ficção e a memória musical coletiva. As cenas que recriam performances ao vivo, como a marcante apresentação no Festival da Canção de 1972 com “Let Me Sing, Let Me Sing”, não são simples reconstituições — são tentativas de evocação de um espírito. Raul sempre cantou para quem queria pensar e sentir ao mesmo tempo, e essa parece ser também a aposta da direção.
O elenco coadjuvante conta com nomes como Cyria Coentro, Julia Stockler, Caroline Abras, Amanda Grimaldi e Jaffar Bambirra, além de João Vitor Silva no papel de Cláudio Roberto, parceiro importante de Raul em algumas das músicas mais conhecidas. Juntos, ajudam a compor os múltiplos “eus” de Raul Seixas: o parceiro, o criador, o pai, o visionário, o esgotado — todos, ao mesmo tempo.
Raul Seixas: Eu Sou não vem para canonizar ou moralizar o artista, mas para cutucar nossas certezas sobre quem ele foi. E talvez, ao fim da temporada, seja possível descubrir que Raul Seixas ainda é — porque alguns corpos se vão, mas certos espíritos permanecem rondando por aí, esperando a próxima guitarra fazer o mundo tremer.