Em Syriana (2005), o roteirista e diretor Stephen Gaghan construiu um thriller político denso e labiríntico sobre os bastidores geopolíticos da indústria do petróleo no Oriente Médio. Vinte anos depois, o filme volta a ecoar com brutal atualidade: o conflito entre Irã e Israel, o bombardeio das instalações nucleares iranianas por parte dos EUA e a ameaça de fechamento do Estreito de Ormuz fazem de Syriana mais do que uma obra cinematográfica — uma espécie de profecia sóbria.
Na trama, observa-se personagens interligados por contratos petrolíferos, interesses estratégicos e jogos de poder que ocorrem em salas de reuniões, desertos e embaixadas. A tensão não está nos tiros — embora eles apareçam —, mas nas decisões tomadas por executivos e agentes de inteligência que, ao escolherem lucros ou alianças, desestabilizam nações. É nesse ponto que a ficção toca o real.
A possível interrupção no Estreito de Ormuz, artéria por onde passa 30% do petróleo mundial, ressoa com o cerne de Syriana: a fragilidade das democracias diante dos interesses energéticos. No filme, o colapso de uma monarquia do Golfo abre caminho para uma disputa de bastidores entre grandes corporações, governos e células radicais. Hoje, o fechamento de Ormuz representa mais do que uma reação iraniana — é um xeque geopolítico que ameaça os preços globais e revela o quão refém o mundo ainda é do petróleo e de seus territórios.
George Clooney, em seu papel de agente da CIA desiludido, simboliza esse impasse moral: o agente que executa ordens sem compreender completamente seus desdobramentos. A realidade imita essa desorientação. Enquanto líderes mundiais se posicionam em discursos sobre paz e segurança, navios-tanque desviam rotas e os mercados se antecipam com pânico.
Syriana não oferece respostas, apenas escancara as engrenagens. Neste momento, em que a guerra se arma com drones, sanções e sabotagens diplomáticas, o filme nos lembra que os conflitos modernos são decididos muito antes de qualquer explosão — e que as maiores batalhas, como a do Irã neste exato momento, muitas vezes já estão perdidas quando os dutos se tornam mais valiosos que vidas.
O Oriente Médio de 2025, com o Irã em rota de colisão com o Ocidente, não está muito distante do tabuleiro que Syriana desenhou em 2005. A diferença é que agora, o que era alegoria virou manchete. E talvez o filme, mais do que nunca, deva ser revisto como uma advertência.
O filme está disponível na plataforma MAX.