Se estivesse vivo, Stuart Sutcliffe completaria 85 anos nesta segunda-feira, 23 de junho. Seu nome talvez não ressoe como os de Lennon, McCartney, Harrison ou Starr, mas sua presença é uma das mais evocadas — e mais mitificadas — da gênese dos Beatles. Personagem que habita o limiar entre a lenda e a arte, Stuart não era só o primeiro baixista da banda: ele foi também um catalisador estético, um reflexo existencial e um símbolo do tempo em que Liverpool ainda era mais Beatnik que Beatlemania.
Stuart foi colega de arte de John Lennon no Liverpool College of Art. Mais do que um músico, era um pintor obcecado por expressão. Lennon o convenceu a comprar um baixo com o dinheiro da venda de um quadro e integrá-lo à então nascente banda The Silver Beetles. Sutcliffe nunca teve o domínio técnico do instrumento, mas sua estética influenciou diretamente o estilo visual do grupo no início dos anos 1960: o cabelo desgrenhado, os óculos escuros, as roupas justas e pretas — muito antes da beatlemania fabricar terninhos e gritos ensaiados.
Sua figura introspectiva contrastava com a urgência dos palcos de Hamburgo, onde os Beatles moldaram sua personalidade sonora e performática. Ali, Sutcliffe conheceu e se apaixonou por Astrid Kirchherr, fotógrafa alemã com quem viveu uma história de amor que o afastou dos shows e o aproximou ainda mais da arte visual. Kirchherr, aliás, foi a responsável por eternizar a imagem melancólica e elegante de Stuart em retratos que o tornaram ícone pós-moderno — uma espécie de James Dean dos Beatles.
Stuart deixou os Beatles em 1961 para dedicar-se à pintura em Hamburgo. Morreu um ano depois, aos 21, vítima de uma hemorragia cerebral. Sua morte precoce consolidou o status cult: um Beatle sem álbum gravado, um artista sem tempo de maturação, um jovem cuja existência pulsa nos interstícios entre música, imagem e ausência.
Hoje, sua obra plástica é valorizada por colecionadores e exposta em galerias como herança de um talento que sempre caminhou à margem da indústria. Seu espólio — gerido durante décadas por Kirchherr até sua morte em 2020 — sobrevive em catálogos, livros e nos retratos preto e branco que o mantêm em estado permanente de juventude.
Stuart Sutcliffe é lembrado não como uma sombra dos Beatles, mas como um dos fantasmas que os habitam. Sua breve jornada reverbera nas primeiras notas da banda e, sobretudo, no silêncio entre as faixas — onde a imagem do quinto Beatle continua, imóvel, de cabelos caindo sobre os olhos, encarando um mundo que ele mesmo nunca teve tempo de ver mudar.
Abaixo, aprecie uma gravação de "Love me Tender" na voz de Stuart Sutcliffe