Encerrar oficialmente o Skank em 2023 nunca significou extinguir o que o grupo representou para o pop-rock brasileiro; Rosa, primeiro álbum solo de Samuel Rosa, confirma isso. Gravado no Sonastério (MG) e produzido por Renato Cipriano, o disco traz dez faixas que oscilam entre o DNA melódico do Skank e tentativas de arejar o repertório (sopro de valsa em “Ciranda Seca”, discretos tambores eletrônicos em “Tudo Agora”). A sensação é dupla: ao mesmo tempo em que Rosa busca um espaço autoral próprio, cada acorde maior com sétima aberta evoca o passado imediato de sua banda. Difícil escapar: a voz, os timbres de guitarra e o fraseado remetem a duas décadas de sucessos.
O fantasma do “nunca acabou”
O sentimento de continuidade fica evidente em “Rio Dentro do Mar”, faixa sete: a progressão harmônica (G – D – Em – C) é irmã dos hits radiantes do Skank, e o refrão pautado por intervalos ascendentes lembra “Resposta” ou "Algo Parecido" (com o perdão da ironia fina). A canção carrega um groove de baixo que poderia estar em Estandarte (2008), e o delay de guitarra encerra qualquer dúvida sobre a árvore genealógica do arranjo. Não é demérito; apenas indica que Rosa não quis — ou não conseguiu — romper radicalmente. Para quem esperava um salto de estilo, Rosa soa como a continuação de uma conversa interrompida, não o começo de outra.
Pontos altos
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“Me Dê Você” abre o disco com refrão redondo e riffs que funcionam ao vivo;
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“Não Tenha Dó” traz o autor em clima acústico-confessional, apontando um caminho que poderia ser mais explorado;
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“Segue o Jogo” (single prévio) injeta suingue de reggae, lembrando o flerte antigo do Skank com discos como Calango.
Pontos de estagnação
Quando Rosa tenta modernizar a produção — synths tímidos em “Flores da Rua”, beats discretos em “Bela Amiga” — o resultado é seguro demais, sem o risco que um primeiro voo solo permitiria. O lirismo segue a cartilha de relacionamentos e crônicas urbanas, mas raramente surpreende.
Veredicto
Rosa satisfaz o fã que lamentou o fim do Skank: as texturas, os acordes em cadência descendente e a assinatura vocal permanecem intactos. A desvantagem é que o registro não inaugura uma “era Samuel” tão distinta quanto se anunciava.
Se por um lado a fidelidade estética reforça que “o Skank era Samuel”, por outro impede que o músico se desprenda do próprio espelho. Ainda assim, a execução é sólida, os refrães pegam rápido e a produção é limpa — qualidades que sustentam a nota positiva do álbum e mantêm Samuel Rosa como um artesão de melodias pop cuja maior armadilha é o conforto da fórmula que o consagrou.



