Revisitando: "Munique" é o filme mais político e inquieto de Spielberg
Baseado em eventos reais, trama dramatiza a resposta secreta do governo israelense ao atentado terrorista ocorrido durante os Jogos Olímpicos de 1972
Por LockDJ
Publicado em 28/06/2025 10:52 • Atualizado 28/06/2025 10:52
Entretenimento
Eric Bana é o protagonista de Munique (Foto: Divulgação)

“No final de tudo, quem vigia os vigilantes?” – Essa poderia ser a pergunta que ecoa pelas entranhas silenciosas de Munique, um dos filmes mais politicamente desconfortáveis e moralmente dilacerantes da carreira de Steven Spielberg.

 

Baseado em eventos reais, Munique dramatiza a resposta secreta do governo israelense ao atentado terrorista ocorrido durante os Jogos Olímpicos de 1972, em que 11 atletas israelenses foram mortos por um grupo palestino conhecido como Setembro Negro. A missão: caçar e eliminar, um a um, os envolvidos no atentado. Mas Spielberg, em vez de embarcar no caminho fácil da retaliação cinematográfica, propõe algo mais perigoso — a dúvida.

 

O protagonista Avner (Eric Bana, contido, quase espectral) encarna esse dilema ético. Ele não é herói nem vilão. É um homem operando num campo de cinzas morais, entre dever e despersonalização. Ao longo das execuções, o que se perde não é apenas a fé no outro, mas a própria fé em si. Spielberg, frequentemente criticado por sentimentalismos, aqui abdica de qualquer zona de conforto: Munique é seco, preciso e sem indulgência. Um thriller político que sangra lentamente, sem precisar gritar.

 

Tecnicamente, o filme é impecável. A câmera é inquieta, a montagem é quase respiratória, os silêncios são tão eloquentes quanto os diálogos. A cena do atentado no aeroporto, filmada com tensão clínica, poderia facilmente estar em qualquer manual de cinema. Mas é o pós-atentado — o cansaço da vingança, o colapso do sentido — que realmente transforma Munique em algo maior: um filme sobre a erosão da identidade, sobre o ciclo da violência que se perpetua como espiral sem centro.

 

Há quem tenha acusado Spielberg de equidistância, como se denunciar o trauma de ambos os lados fosse um gesto de fraqueza. Pelo contrário — Munique não relativiza o terror; ele mostra como a violência, quando aceita como linguagem diplomática, aniquila todos os idiomas possíveis da empatia.

 

No fim, resta Avner, paranoico, sozinho, num exílio interno. E Spielberg, com rara coragem, encerra o filme com um plano frio das Torres Gêmeas ao fundo — uma escolha que transcende a ironia histórica e assume a forma de profecia.

 

Munique não é um filme para vencer discussões — é um filme para fazer calar. E pensar.

 

O filme está disponível para aluguel na Prime Vídeo, por R$ 11,90, e grátis no Mercado Play para assinantes do Mercado Pago.

 

⭐⭐⭐⭐ Nota: 9,0/10

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