Debbie Harry aos 80: a sacerdotisa elétrica do pop que nunca saiu de cena
Do CBGB ao TikTok, o culto sônico da vocalita do Blondie é um vinil infinito da contracultura.
Por LockDJ
Publicado em 01/07/2025 06:00
Música
Debbie Harry dançou com o punk e flertou com o futuro (Foto: Arte Rádio VB)

Debbie Harry chega aos 80 anos como quem troca a agulha de um LP raro e mantém o vinil girando sem chiado. Nascida em 1º de julho de 1945, ela atravessou seis décadas de reinvenções — de coadjuvante no Max’s Kansas City a sacerdotisa de um pop mutante que ainda pulsa nos clubes de Berlim ou nas playlists do TikTok. Quando lhe perguntaram recentemente sobre a data redonda, Harry respondeu com humor levemente ácido: “a desvantagem é que quase todo mundo já se foi”.

 

CBGB como templo e laboratório

 

No meio dos anos 1970, Blondie soava como uma anomalia entre os acordes ríspidos de Ramones e Television no CBGB. Mesmo vista como “a banda menos provável de dar certo”, insistiu em misturar surf guitar, girl-group, disco e reggae num caldeirão que gerava estranheza e curiosidade iguais. Esse hibridismo virou cartaz quando Parallel Lines (1978) invadiu o Top 40 com “Heart of Glass”, prova de que o punk poderia dançar sem perder o veneno.

 

 

New Wave: pop com DNA underground

 

A imprensa inglesa cunhou “new wave” para explicar o que Harry e Chris Stein faziam: trocar a distorção pelo synth sem descartar a atitude de quem vinha do porão. Ao lado de Talking Heads, Blondie empurrou o rock para as pistas e abriu a trilha que mais tarde acolheria Madonna, Garbage e até o electro-clash dos anos 2000.

 

Ícone visual antes de “fashion-influencer” virar profissão

 

Harry entendeu cedo que imagem também compõe acordes. Desfilou vestidos de brechó cortados na tesoura à la Stephen Sprouse e posou para Robert Mapplethorpe como se misturasse Helmut Newton e bas-fond punk. A fusão entre pop art, Glam e rudeza de rua virou manual involuntário para quem debate hoje “estética DIY”.

 

A poética da longevidade

 

Em tempos de descartabilidade, ela observa o espelho com a ironia de quem já lidou até com bisturi — “Foi necessário, não me arrependo”, confessou este ano. Ao refletir sobre envelhecer, Debbie prefere falar de curiosidade contínua, não de nostalgia: “A beleza do tempo é poder ver tudo de outro ângulo”.

 

Legado em alta rotação

 

Se a explosão original de Blondie ajudou a legitimar o pop nascido do underground, a octogenária Debbie Harry hoje é referência para artistas que transitam entre gêneros como Charli XCX ou St. Vincent. Sua voz — às vezes suave, às vezes lâmina — prossegue como lembrete de que a rebeldia verdadeira não se aposenta; apenas troca de formato, como um arquivo FLAC que preserva cada ruído da fita master.

 

O destino do punk foi tornar-se patrimônio cultural; o de Debbie Harry, continuar empurrando esse patrimônio para frente, 45 rpm de cada vez.

 

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