Weezer mostra a virtude do rock alternativo no Tiny Desk Concert
Acostumada a palcos grandiosos e produções milimetricamente calculadas, a banda californiana trocou os amplificadores por violões.
Por LockDJ
Publicado em 02/07/2025 12:44
Música
Participação do Weezer no Tiny Desk Concert ocorreu em abril de 2019 (Foto: Reprodução)

Gravado em 1º de abril de 2019, o Tiny Desk Concert com o Weezer é um daqueles encontros raros entre o monumental e o despretensioso. Acostumada a palcos grandiosos e produções milimetricamente calculadas, a banda californiana trocou os amplificadores por violões, abandonou os monitores de ouvido, o clique eletrônico e os filtros vocais, e se jogou em um set acústico cru, quase caseiro, onde impera o erro possível — e o encanto verdadeiro.

 

A performance começa com uma surpresa: “Longtime Sunshine”, faixa obscura de 1994 que só reapareceu em versões demo na edição de luxo do Pinkerton. A escolha já deixa claro que o show não se rende aos hits fáceis. Ao contrário, é quase uma carta íntima aos fãs que cresceram com os discos e guardam as raridades com o carinho de quem coleciona cartas antigas.

 

Na sequência, a banda apresenta uma versão acústica de “Living in L.A.”, do Black Album, lançando sobre a eletrônica original uma camada de melancolia inesperada — mais sol do que neon. Depois, mergulha em “Across the Sea”, uma canção escrita por Rivers Cuomo ainda nos seus vinte e poucos anos, inspirada por uma carta de uma fã japonesa. Apesar de querida por muitos desde 1996, a letra — hoje lida com os olhos de outra geração — carrega o peso do tempo e o desconforto de certas ambiguidades.

 

O encerramento vem com “High as a Kite”, também do Black Album, em que Cuomo canta sobre o desejo de sumir, flutuar, escapar. O clima de sonho, embriaguez e leveza não parece gratuito: logo após a última nota, a banda desaparece tão discretamente quanto chegou. Mas não sem antes deixar um recado direto e absurdo: “Nós somos o Weezer, do planeta Terra. Tenham uma boa vida!”

 

Um reencontro com a essência


Esse Tiny Desk é menos sobre técnica e mais sobre presença. Aqui, o Weezer soa como uma banda de garagem que cresceu demais, mas ainda sabe voltar à varanda de casa quando necessário. O que se vê não é a grandiosidade do rock alternativo dos anos 2000, mas a vulnerabilidade encantadora dos anos 1990: camisas de flanela, timbres desplugados e memórias desarrumadas.

Para quem já viu a banda cercada de lasers e efeitos, é surpreendente perceber que o que ainda nos prende a eles é algo muito mais simples: quatro caras tocando juntos, sem máscaras, em um canto pequeno e sincero.


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