Longe do barulho glam do Måneskin, o cantor italiano Damiano David reaparece em 2025 com o disco Funny Little Fears, trabalho solo que abandona a distorção das guitarras e mergulha em um universo pop construído sobre camadas de vulnerabilidade, beats sintetizados e memórias desalinhadas. O título entrega o projeto: pequenas fobias emocionais expostas com controle de estúdio, estética urbana e pulso íntimo.
A faixa "Zombie Lady" funciona como uma carta não enviada. Uma batida constante sustenta uma narrativa de alguém que insiste em permanecer — ou voltar — mesmo depois de tudo virar pó. A personagem do título caminha entre o fim do afeto e o desejo zumbi de continuidade. A voz de Damiano recua para o grave, quase falado, sugerindo mais contenção do que explosão. A música é menos sobre monstros e mais sobre o retorno insistente das ausências.
Em "The First Time", o discurso se torna cronológico: memórias da primeira vez que algo (ou alguém) se instala de forma definitiva. O arranjo avança em forma de ciclo, com synths em repetição crescente e uma linha vocal que parece girar sobre si. A canção não fala apenas do passado, mas de como ele se infiltra no presente e define o contorno do agora. O tempo não passa — ele repete.
O disco inteiro flerta com os temas da exposição emocional, com o eu como palco de ruínas silenciosas. Não há solos longos, nem refrões expansivos. É um álbum de confinamentos: dentro do quarto, do fone, da própria pele.
A turnê como travessia
O Brasil faz parte da turnê internacional de Damiano David, que percorre palcos até dezembro, em uma trajetória que inclui Seul, Varsóvia, Sydney, Seattle e outras cidades. Mais do que shows, os concertos funcionam como extensão da proposta do disco: encontros moderados, experiências sensoriais coletivas a partir da intimidade. A presença física serve de contraponto à natureza emocionalmente digital do álbum.
Um outro Damiano
Funny Little Fears não rompe com a persona construída com o Måneskin — apenas a desloca. O corpo em performance ainda está lá, mas a máscara é outra. O palco agora é menor, a luz é mais baixa, e a narrativa é menos épica e mais circular. O disco não grita. Ele observa.
⭐⭐⭐⭐ Nota: 9/10