Entre o êxtase e o eco: o amor segundo John Denver
Unidos pelo amor e pela música, Denver e Annie foram, durante uma década, uma das duplas mais emblemáticas do folk norte-americano dos anos 1970.
Por LockDJ
Publicado em 10/07/2025 17:34 • Atualizado 10/07/2025 17:34
Música
John Denver e Annie Martell escreveram uma história de amor que virou discografia pop (Foto: Divulgação)

No grande inventário da canção romântica, poucas histórias ecoam com tanta ternura e melancolia quanto a de John Denver e Annie Martell. Unidos pelo amor e pela música, eles foram, durante uma década, uma das duplas mais emblemáticas do folk norte-americano dos anos 1970. Mas o que começou com promessas nas montanhas do Colorado terminou em silêncio – ou quase.

 

Annie’s Song, lançada em 1974, é talvez o gesto amoroso mais explícito da discografia de Denver. Escrito em dez minutos, logo após um passeio de esqui, o tema foi inspirado por uma sensação de renovação e gratidão que ele sentiu pelo casamento com Annie. A letra é um amálgama de natureza, paixão e devoção, e se tornou o maior sucesso da carreira do cantor — um hino íntimo que transformou Annie em ícone involuntário da cultura pop romântica.

 

 

Mas o tempo, como sempre, molda novas versões do afeto. Em 1981, já separados, Denver lançou Perhaps Love, uma colaboração inesperada com Plácido Domingo. Era uma canção muito menos afirmativa. Em vez de louvar, ela indaga. Em vez de prometer, ela hesita. É um inventário das possibilidades do amor: para alguns é o lar, para outros, a dor. “Love to some is like a cloud / to some as strong as steel”, canta Denver, em voz limpa, quase vulnerável.

 

É precisamente esse traço de ambivalência que fez de Perhaps Love a canção favorita de Annie Martell — como ela revelou em entrevista no dia seguinte à morte de John, em 1997, após acidente aéreo. Mais do que Annie’s Song, ela via naquela canção a complexidade do amor que viveram: nem apenas céu, nem só tempestade. O amor real, cheio de perguntas sem resposta, feito de presença e perda.

 

 

A história dessas duas músicas é, no fundo, a saga de um sentimento em transformação. O que começa com um grito de júbilo se encerra com um sussurro de saudade. John Denver, mesmo sem saber, deixou para o mundo dois retratos complementares do afeto: a exaltação e a dúvida, o primeiro fogo e a cinza persistente.

 

É por isso que ouvir Perhaps Love, hoje — com ou sem o conhecimento da biografia por trás — ainda comove. Porque no fundo muitos já estivemos ali, entre o amor que foi, o que ainda pode ser, e o que talvez, quem sabe, nunca tenha deixado de ser.

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