No universo sonoro de Big Thief, as canções não vêm para impressionar: elas sussurram, escavam e resistem. Em “All Night All Day”, o novo single lançado pela banda nova-iorquina, o tempo parece desacelerar até virar poeira — e nesse grão suspenso de simplicidade, algo profundo acontece.

A faixa é construída com a crueza que virou marca do grupo liderado por Adrianne Lenker: voz nua, cordas que soam como veias expostas e uma percussão que hesita mais do que comanda. Mas é exatamente aí que reside sua força. “All Night All Day” não quer dizer muito — ela quer permanecer. Ficar na escuta. No mantra. Na espera.

O título sugere um ciclo — vigília e sonho, luz e escuridão — e a letra ecoa essa ideia, como se a banda estivesse invocando um encantamento para proteger algo pequeno, mas vital. Há uma quase infantilidade no refrão, que ressoa como cantiga de ninar, mas é carregado por uma tensão adulta: o medo do fim, da perda, do silêncio absoluto.

Big Thief sempre operou no intervalo entre o folk e a transcendência. Aqui, parece dar mais um passo em direção ao essencial. Nada sobra, tudo reverbera. Em tempos de exageros e lançamentos milimetricamente calculados, “All Night All Day” soa como um desvio proposital — a banda preferiu parar para respirar. E talvez esse seja o gesto mais radical de todos.