Sérgio Britto e Bruno Martini unem estilos geracionais em single pulsante
"Deixa Eu Te Ver” transita entre o silêncio do olhar e os beats da reinvenção
Por LockDJ
Publicado em 12/07/2025 19:44 • Atualizado 12/07/2025 19:45
Música
Sérgio Britto e Bruno Martini deram força criativa ao single "Deixa Eu Te Ver” (Foto: Divulgação)

Lançada no embalo simbólico do Dia Mundial do Rock, celebrado neste domingo, 13 de julho, “Deixa Eu Te Ver” marca o encontro entre duas linguagens musicais aparentemente distantes, mas ligadas por uma mesma pulsação criativa. De um lado, Bruno Martini — figura consolidada na música eletrônica global. Do outro, Sérgio Britto — integrante histórico dos Titãs e voz de muitas inquietações urbanas que atravessaram o Brasil das últimas décadas.

 

A faixa nasce da intenção declarada de cruzar fronteiras estéticas. Martini propõe sair da zona de conforto, aproximando os synths retrô de sua bagagem eletrônica com camadas de guitarras, instrumentos acústicos e timbres que remetem aos anos 1980 — não por nostalgia, mas como ponte sensorial. É uma construção de ambiências: atmosfera híbrida entre rave e palco de rock alternativo, entre pista e palco, entre batida e palavra.

 

A letra, escrita com o lirismo contido de Britto, se move entre o dito e o não-dito. “Essa música trata do que está além da fala”, afirma o compositor, evocando aquele território onde a entrega amorosa já aconteceu antes do gesto verbal. Nesse sentido, a música adensa sua intenção: não apenas unir estilos, mas tocar num registro de intimidade silenciosa — mais sentimento do que explicação.

 

O resultado é menos sobre hibridismo e mais sobre coexistência. Não se trata de um DJ fazendo rock ou de um roqueiro flertando com a eletrônica. É o reconhecimento de que o desejo de expressão pode se manifestar em muitos formatos — e que eles podem conversar. Há, no arranjo, uma cadência que sugere movimento, mas sem pressa. Uma vibração noturna, quase contemplativa. O beat não atropela; a guitarra não impõe.

 

“Deixa Eu Te Ver” também funciona como um registro de transição. Bruno Martini, agora à frente do selo Beeside Records, parece testar o terreno para novas explorações, menos focadas em hits de pista e mais abertas à construção de paisagens sonoras autorais. Britto, por sua vez, reafirma sua inquietação constante, transitando entre o legado titânico e colaborações que mantêm seu repertório de perguntas sempre em aberto.

 

No fim, a faixa é menos uma tentativa de reinventar o rock e mais um convite à escuta sem rótulos — em que a memória afetiva encontra o presente eletrônico em um ponto de tensão que é também encontro. O som pulsa entre a batida e o suspiro. E nessa suspensão entre dois mundos, Bruno e Britto entregam um território comum, onde ver também pode ser ouvir.

 

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