No palco intimista do Tiny Desk Fest, a cantora e compositora Sheryl Crow cantou sucessos e ofereceu uma reflexão crítica sobre o tempo e o modo como ouvimos música hoje.
Acompanhada por sua banda, Crow abriu o show com uma provocação: “Enquanto as crianças estão compondo fast food... nós ainda estamos compondo salmão”. A metáfora não visava desmerecer o pop contemporâneo, mas pontuar sua opção por uma música que demanda tempo, escuta e presença.
O repertório, com cerca de 35 minutos de duração, passou por canções marcantes de sua carreira e faixas do álbum Threads — projeto colaborativo que reúne duetos com nomes como Johnny Cash (cover da música para seu lançamento póstumo de 2010), Eric Clapton e Stevie Nicks. Mesmo com o peso desses nomes fora do palco, as músicas se sustentaram com força própria no espaço reduzido e sem artifícios do Tiny Desk.
O início com “All I Wanna Do”, sucesso lançado há exatos 25 anos, foi seguido por composições que revelam o amadurecimento de sua obra ao longo de 11 álbuns e nove prêmios Grammy. A apresentação avançou com um set que entrelaçou memórias radiofônicas com momentos inéditos, culminando em “If It Makes You Happy”, que encerrou a participação em clima de comunhão entre público e artista.
A performance soou como uma afirmação: em tempos de velocidade e descartabilidade, há espaço — e necessidade — para a permanência.
No palco compacto da NPR, Sheryl Crow não disputou a atenção do espectador com efeitos, mudanças rápidas ou algoritmos. Ela apostou na canção como forma de permanência. E, ao que tudo indica, a aposta continua em jogo.