Lançado em 21 de julho de 1987, Appetite for Destruction marcou a estreia do Guns N’ Roses na estrada. É o instante em que o rock, encurralado entre o glam plastificado e os sintetizadores oitentistas, voltou a mostrar os dentes. A crueza dos riffs de Slash, o deboche existencial de Axl Rose e a pulsação crua do baixo e da bateria transformaram o disco em um manifesto urbano — sujo, contraditório e alucinado — nascido entre becos de Los Angeles, overdoses, tatuagens mal curadas e resquícios do punk.
Em um tempo em que a MTV decidia destinos e a indústria fonográfica ainda acreditava em perigo como produto, Appetite surgiu como um soco sem anestesia na paisagem sonora mainstream. Nenhum outro álbum daquela década traduz tão visceralmente o caos das grandes cidades, o desencanto da juventude e a beleza decadente de uma banda que ainda nem imaginava o tamanho do mito que criaria.
Entre faixas que rasgam como lâminas enferrujadas —Welcome to the Jungle, It’s So Easy, Mr. Brownstone — uma canção se ergueu para habitar o imaginário coletivo como hino e exorcismo: Sweet Child o’ Mine. A balada que começa com um solo hipnótico, nascido de uma brincadeira de aquecimento de Slash, atravessou décadas sem perder a capacidade de tocar onde mais dói.
Era a canção que explodia nas jukebox dos bares enfumaçados às três da manhã, quando já não havia esperança nem sobriedade. Tocava enquanto casais se formavam ou se destruíam, embalando declarações tortas e adeuses definitivos. Sua melodia melancólica embebida em distorção, a forma como cresce, cresce, cresce — até engolir tudo — fez de Sweet Child mais do que um hit: uma cicatriz sonora. Garrafas de cerveja erguidas, olhos marejados, e um mundo que parecia, por cinco minutos e dois segundos, suportável.
Appetite for Destruction foi o disco de estreia mais vendido da história do rock. Foi última vez que uma banda mainstream soou genuinamente perigosa. Era 1987, e o Guns N' Roses mostrava que a fome não era apenas por destruição — era por imortalidade.