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Música da noite: "Números" e as cifras inalcançáveis do tempo
No Brasil da virada do milênio, tudo era quantificável, menos o essencial.
Por LockDJ
Publicado em 31/07/2025 21:41 • Atualizado 31/07/2025 21:42
Música
Números é um manifesto existencial disfarçado de pop-rock gaúcho (Foto: Reprodução)

 Quantos versos têm uma canção? Depende de quantos sentimentos cabem nela. Engenheiros do Hawaii, em Números, fazem mais do que contar: confrontam.

 

Lançada em 1999 no álbum 10.000 Destinos, a música prepara terreno para abandonar a década de 90, sem ficar refém de estatísticas nem promessas rasas para o futuro incerto que se avizinhava com a virada do milênio.

 

Humberto Gessinger, com sua voz entre o irônico e o profético, transforma cifras em poesia e entrega um retrato ácido do Brasil da virada, onde tudo era quantificável, menos o essencial.

 

“Cinco extinções em massa, 400 humanidades, e eu com esses números.” Entre sintetizadores discretos, guitarras cruas e uma base melódica precisa, a canção recita os vícios de uma era marcada por um sopro novo do rock - menos visceral, mais industrial. Há algo mais profundo ali: uma provocação filosófica que remete a Santo Agostinho, mostrando que o tempo só existe enquanto consciência — e número algum dá conta da experiência humana.

 

“A medida de amar é amar sem medida”. É menos matemática, mais sobre a alma.

 

Números é um manifesto existencial disfarçado de pop-rock gaúcho. É sobre a falência de um modelo que tenta medir tudo, mas esquece o que importa. No fundo, Engenheiros estavam recitando o mesmo que Agostinho já dizia no século IV, com outras palavras: há verdades que os algoritmos não alcançam. E, talvez, seja justamente nelas que reside o sentido.

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