Em 1º de agosto de 1981, um foguete decolou da televisão americana. No lugar da contagem regressiva da NASA, um riff de guitarra anunciava a chegada de algo novo. O vídeo que inaugurava a MTV — Video Killed the Radio Star, do Buggles — não era só irônico: era profético. Nascia ali o canal que mudaria para sempre a forma como ouvimos, vemos e sentimos música.
A MTV não foi apenas um canal de videoclipes. Foi um espelho distorcido e vibrante da juventude dos anos 80 e 90, um espaço onde Madonna dançava entre cruzes em chamas, e Michael Jackson revolucionava narrativas com Thriller. Na emissora, Nirvana ensinava que o grunge também podia ser pop — ou vice-versa. A era em que o videoclipe virava arte, manifesto e performance. Um tempo em que artistas como Prince, Bowie, Björk, Beastie Boys, Gwen Stefani e até o “curinga” Eminem não só dominavam as paradas, mas também a tela, com visuais que viravam ícones instantâneos.
No Brasil, a MTV chegou em 1990 com um sotaque alternativo e uma câmera na mão. Emissora de nicho? Talvez. Mas moldou uma geração inteira com Disk MTV, MTV Rock Brasil, Top 20, Acústico MTV, Gordo Pop Show, Beija Sapo, Piores Clipes do Mundo. Foi onde a música brasileira ganhou cor e espaço fora do rádio: Raimundos, Titãs, Charlie Brown Jr., Pitty, O Rappa, Mamonas, Los Hermanos. Foi onde o emo chorou em HD e o rap ressurgiu com Racionais e Sabotage. Foi onde o VJ virou estrela e o telespectador virou cúmplice. E o Acústico MTV se tornou mais importante que o Grammy para os artistas daqui.
Com o tempo, o canal se fragmentou, virou meme, saiu da TV aberta, se refugiou na era digital. Mas a estética MTV nunca desapareceu — ela está nos reels, nos cortes rápidos, na superexposição das identidades, na moda nostálgica e na linguagem visual dos clipes que ainda fazem dançar com os olhos.
Celebrar os 44 anos da MTV é lembrar que a música, em algum momento, passou a se ver. E que, talvez, a verdadeira estrela do vídeo nunca tenha sido o artista — mas o adolescente em casa, com o controle remoto na mão, acreditando que podia ser qualquer elemento na atmosfera sonora.
✨ Longa vida à MTV — mesmo que ela não seja mais a mesma, nós também não somos.