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Revisitamos "Um Sonho de Liberdade" e a fuga possível pela memória
Filme foi baseado na novela Rita Hayworth and Shawshank Redemption, de Stephen King.
Por LockDJ
Publicado em 02/08/2025 11:24 • Atualizado 02/08/2025 11:24
Entretenimento
Cena clássica do filme que provoca sentimentos mútuos de libertação (Foto: Reprodução)

Mais de Trinta anos após seu lançamento, Um Sonho de Liberdade permanece como uma das obras cinematográficas mais celebradas e revisitadas da década de 1990 — e talvez, paradoxalmente, uma das mais silenciosas em sua estreia. Baseado na novela Rita Hayworth and Shawshank Redemption, de Stephen King, o filme dirigido por Frank Darabont não foi concebido como um blockbuster, tampouco foi recebido como tal nas bilheteiras de 1994. A ascensão ao status de clássico aconteceu no ritmo da própria narrativa que conta: lenta, gradual e, no fim, inevitável.

 

Em exibição no catálogo da HBO Max, o longa sobre o banqueiro Andy Dufresne (Tim Robbins), condenado injustamente por duplo homicídio, não propõe ação, redenção imediata ou heroísmo tradicional. Ele prefere esculpir, pedra por pedra, o cotidiano de uma prisão e suas estruturas de opressão, onde o tempo se dobra sobre os homens e a esperança vira uma heresia silenciosa.

                                   Andy e Red construíram uma amizade sólida na prisão (Foto: Reprodução)

 

A relação entre Andy e Red (Morgan Freeman, em uma atuação de fôlego contido) é o eixo por onde circulam temas como lealdade, sobrevivência, isolamento e memória — em contraste com o brutalismo dos muros de Shawshank e a corrupção do sistema prisional, representada pelo diretor Samuel Norton.

 

Darabont constrói um filme que parece não querer impressionar, mas sim sedimentar. A fotografia amarelada de Roger Deakins e a trilha melancólica de Thomas Newman sustentam uma ambiência onde o tempo parece suspenso — como o pó das pedras que Andy cava por anos, em segredo, por trás de pôsteres de divas de Hollywood - como Rita Hayworth, mencionada no título da obra de Stephen King.

                    Red e Andy durante sessão de cinema na penitenciária (Foto: Reprodução)

 

Quando a fuga acontece, não é espetáculo, é libertação. E ela não vale só para Andy, mas para todos os que assistem. Em vez de ser apenas um filme sobre prisão, Um Sonho de Liberdade é uma obra sobre permanecer vivo, mesmo quando se está esquecido.

 

Injustiçado no Oscar de 1995?

 

Na disputa pelo Oscar de 1995, Um Sonho de Liberdade enfrentou uma das safras mais emblemáticas da história da premiação, concorrendo com pesos pesados como Forrest Gump, Pulp Fiction, Quiz Show e Quatro Casamentos e um Funeral. Apesar de ser indicado em sete categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator (Morgan Freeman) e Melhor Roteiro Adaptado, o longa de Frank Darabont saiu da cerimônia sem nenhuma estatueta.

 

O favoritismo absoluto de Forrest Gump, que levou seis Oscars, incluindo o de Melhor Filme, acabou ofuscando o reconhecimento crítico e popular que Um Sonho de Liberdade só conquistaria anos mais tarde.

 

Talvez o filme de Darabont tenha sido vítima de seu próprio tempo — um drama humano contido, sem explosões de estilo ou personagens histriônicos, diante de concorrentes que capturaram o espírito da década de forma mais imediata. Pulp Fiction reinventava a linguagem narrativa; Forrest Gump oferecia uma viagem emocional e nostálgica pela história americana; e Quiz Show e Quatro Casamentos traziam variações de sofisticação e carisma. Um Sonho de Liberdade, no entanto, permaneceu — como o próprio Andy Dufresne — discreto, persistente e, com o tempo, livre da necessidade de premiações para ser alçado ao status de clássico.

 

Ao completar três décadas, o filme ainda sobrevive em VHS, listas de melhores da história, transmissões regulares e afetos particulares. Sua força está na recusa em ser óbvio, na fidelidade ao detalhe, na ideia de que a esperança, mesmo invisível, pode ser o mais subversivo dos gestos. Entre paredes cinzentas, o que ele oferece é uma saída — uma fresta para Zihuatanejo.

 

Nota:  10/10

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