No sábado, 2 de agosto, o poeta maranhense Nauro Machado completaria 90 anos de nascimento. Dez anos após sua morte, em 27 de novembro de 2015, sua poesia ainda ecoa como uma das mais intensas e profundas da literatura brasileira. Para marcar a data, será lançado no próximo dia 14 de agosto, às 19h, no Convento das Mercês, seu último livro inédito: Um Iceberg para a Praia Grande.
A obra, um extenso poema de quase cinco mil versos em sextilhas, foi preparada por Arlete Nogueira da Cruz Machado, esposa e curadora da produção do poeta. Esta é a sexta e última publicação póstuma organizada por ela, reunindo o que restava inédito da vasta obra de Nauro — que inclui 43 livros de poesia, além de crônicas, ensaios e antologias.
O evento, realizado em parceria com a Fundação da Memória Republicana Brasileira, contará com apresentação musical às 20h30, reunindo amigos e artistas que conviveram com o poeta: César Teixeira, Chico Maranhão, Chico Saldanha, Gerude, João Pedro Borges, Josias Sobrinho, Ronald Pinheiro e Sérgio Habibe.
O último mergulho poético de Nauro
Um Iceberg para a Praia Grande surge como testamento lírico de um autor que sempre confrontou a existência com coragem, lucidez e uma linguagem visceral. A obra traz prefácio de Alexei Bueno — poeta, tradutor e ensaísta — e textos de orelha assinados por Ricardo Leão, profundo conhecedor da obra naurina.
Nas palavras de Leão, o livro é “uma obra densa e abissal, onde a morte — tema recorrente de Nauro — paira sobre cada verso, cada imagem”. O título carrega uma metáfora poderosa: o “iceberg” representa tanto a frieza emocional quanto as camadas invisíveis da alma humana; já a “Praia Grande” remete ao bairro histórico de São Luís, lugar físico e simbólico, constante na cartografia emocional do poeta.
O texto é marcado por oximoros, imagens oníricas, simbolismos fúnebres e reflexões filosóficas, com a linguagem oscilando entre o erudito e o coloquial, o sagrado e o profano. Nauro se apresenta como náufrago da existência, buscando sentido em meio à fragmentação do ser e à iminência da morte. Seus versos falam de ossos, túmulos, mares, ruínas e silêncio, como se a poesia fosse a única âncora possível diante do abismo.
Legado permanente
Figura central da poesia maranhense contemporânea, Nauro Machado escreveu quase toda sua obra em São Luís, com exceção do livro Exercício do Caos, escrito durante uma temporada em São Paulo. Sua poesia marcou gerações por sua intensidade existencial, linguagem labiríntica e profunda reflexão sobre a finitude e a condição humana.
O lançamento de Um Iceberg para a Praia Grande não apenas celebra o que teria sido o 90º aniversário do autor, mas reafirma a presença de sua voz na literatura brasileira: uma voz inquieta, dolorida, filosófica — e, acima de tudo, viva.