No dia 8 de agosto de 1969, um instante aparentemente banal se transformaria em um dos ícones visuais mais marcantes da história da música. Às 11h30 da manhã, o fotógrafo escocês Ian Macmillan posicionou-se sobre uma escada improvisada no meio da Abbey Road, em Londres, e registrou os Beatles atravessando a faixa de pedestres em frente aos estúdios da EMI. Seis fotos foram feitas; a quinta virou a capa do disco que selaria o fim simbólico da banda mais influente do século XX.
A ideia foi de Paul McCartney, que fez um rascunho simples da imagem que queria: os quatro caminhando lado a lado. Coube a Macmillan ajustar o enquadramento e sugerir detalhes que dariam à cena um toque de eternidade. Linda McCartney, então esposa de Paul, acompanhou tudo e clicou registros de bastidores, revelando o clima descontraído da sessão, em meio ao calor daquele verão londrino.
Paul, aliás, estava descalço — não por misticismo, como tantos fãs especulariam, mas simplesmente por causa do calor.
Mais do que uma simples imagem, a foto simbolizou uma travessia. Com Abbey Road, os Beatles já não eram mais os garotos de Liverpool. O álbum marca uma maturidade sonora, um refinamento na produção e a despedida afetiva antes da dissolução definitiva do grupo, meses depois.
Lançado em setembro de 1969, Abbey Road é uma obra-prima que flui entre o rock robusto de “Come Together”, a delicadeza melancólica de “Something” (de George Harrison) e a explosão criativa do medley que ocupa quase todo o lado B — uma sequência de faixas costuradas com perfeição, encerradas com a épica “The End”. É o álbum onde os egos se acomodam em nome da harmonia musical, mesmo quando os laços pessoais já estavam em frangalhos.
A capa de Abbey Road transcendeu a música. Tornou-se ponto turístico, camiseta, paródia e lenda. Cada passo ali capturado continua ecoando — como uma travessia que, mais de cinco décadas depois, ainda reverbera nas faixas de todas as gerações.