Há canções que soam como confessionários disfarçados, e o artista se despe sem perder a poesia. Ever Present Past, de Paul McCartney, lançada em 2007 no álbum Memory Almost Full, é uma dessas peças; um retrato maduro e irônico de quem carrega décadas de palco, memórias e cicatrizes. Escrita já no outono de sua vida, a faixa parece conversar tanto com o garoto de Liverpool que desafiou o mundo nos anos 60 quanto com o homem que aprendeu que o tempo não espera ninguém.
Musicalmente, é McCartney em estado puro: baixo pulsante, guitarras cristalinas, refrão que se cola à pele e uma energia que remete à vitalidade dos primeiros anos dos Beatles, mas filtrada pela consciência de quem já viu impérios culturais nascerem e ruírem.
Entre linhas melódicas de pop refinado e um arranjo quase minimalista, Paul entrega uma canção que dança no fio entre nostalgia e reinvenção. É como se dissesse: “O passado é onipresente, mas não me aprisiona”.
Em 2007, o mundo respirava um ar de transição, a indústria musical migrava para o digital, o vinil ensaiava seu retorno cult, e McCartney, com mais de 40 anos de carreira, ainda encontrava novas formas de se inserir no diálogo contemporâneo.
Ever Present Past é um lembrete elegante de que envelhecer, no universo da arte, não significa perder o frescor, mas, sim, ganhar camadas, ironia e a coragem de cantar sobre a passagem do tempo sem medo de dançar com ele.