Em 2000, Madonna lançou sua versão de American Pie, clássico de Don McLean de 1971. O cover foi um manifesto pop sobre o fim de uma era. A “Rainha do Pop” filtrou o espírito folk melancólico da original pelos filtros sintéticos da virada do milênio — menos violões, mais beats etéreos.
A canção, que na versão original lamenta a morte do rock’n’roll e de sua inocência, ganha com Madonna um tom de ironia fina, dançante e crítica. A cara do novo século.
Inserida na trilha sonora do filme Sobrou pra você e lançada como single, a releitura gerou polêmica: uns a chamaram de heresia, outros de genialidade revisionista. McLean, por sua vez, aprovou a versão. Era como se Madonna dissesse: “Sim, o sonho acabou. Mas vamos dançar entre os escombros”. E essa é a beleza do seu cover — transforma luto cultural em pista de dança. Da América idealizada dos anos 50 ao desencanto do mundo globalizado dos anos 2000, tudo cabe na sua voz ecoando entre sintetizadores.
️Com estética clean, clipe vibrante e um vocal suave que se recusa a dramatizar, American Pie versão Madonna, além de uma homenagem, é uma elegia pop ao século XX. Um relicário eletrônico que carrega o peso simbólico de uma transição histórica. Nostálgica, mas futurista. Um país que ainda cantava sobre o dia em que a música morreu, mas que, com ela, segue reimaginando como renascer.