Quando “Uns Dias” se aproxima dos ouvidos, a canção vira um retrato lírico da finitude e do efêmero, um desses instantes que a música brasileira soube eternizar. Os Paralamas do Sucesso, com a destreza de Herbert Vianna, somada à assinatura de Roberto Frejat, constroem aqui uma atmosfera de despedida e respiro. Cada acorde parece sugerir a impermanência dos sentimentos.
A faixa se inscreve no território da poesia melódica e feroz, ao mesmo tempo íntima e universal. É como se fosse um recado deixado no vento, ecoando a vulnerabilidade humana diante do espaço que escorre. Os arranjos sutis dos Paralamas, aliados à carga poética de Frejat, transformam “Uns Dias” em uma peça quase contemplativa. A canção pede escuta atenta, com o coração aberto ao silêncio entre as notas.
Escutar “Uns Dias” é mergulhar em um espaço suspenso, no qual memória e ausência se tocam. É música que ultrapassa a linearidade do pop-rock brasileiro para se aproximar daquilo que poderíamos chamar de transe poético-musical: uma pausa, um instante de reflexão embalado pela força de dois gigantes do rock nacional. Porque há canções que não se ouvem — se habitam.