Nasceu em Nova York, cresceu entre ensaios e tensões familiares, atravessou os becos do East Village antes de levar sua voz arrastada para o mundo. Julian Casablancas completa 47 anos neste sábado, 23 de agosto, como quem conta os compassos de uma bateria seca e de uma guitarra em looping.

Filho de John Casablancas, fundador da Elite Model Management, cresceu sob a sombra do brilho paterno, distante e muitas vezes incômodo. Da mãe, Jeanette Christiansen, trouxe outro horizonte, uma base mais íntima que contrastava com a velocidade da cidade. Essa tensão entre raízes e rupturas se transformou em música.

Com os Strokes, lançou Is This It em 2001 e redesenhou o mapa do rock no início do milênio. Aquelas faixas cruas, que soavam como fita demo vazando dos porões de Manhattan, tornaram-se um manifesto geracional. Vieram Room on Fire, First Impressions of Earth, hiatos, retornos, e a sensação de que o relógio nunca girava igual dentro da banda.

No palco, Julian sempre parecia dividir-se entre líder e espectador, deixando que a ironia fosse o refrão invisível de sua trajetória.

Fora da banda, experimentou em Phrazes for the Young (2009) um caminho mais eletrônico, e com os Voidz se entregou à mistura caótica de riffs, sintetizadores e ritmos quebrados. A discografia solo soa como rabiscos em um diário que ele nunca quis mostrar inteiro. Na vida pessoal, os conflitos com o pai e a busca por autonomia aparecem como pano de fundo de sua forma de estar no mundo.

Aos 47, Julian Casablancas não é lembrança congelada dos anos 2000, mas o som contínuo de uma guitarra que ainda ecoa pelos corredores subterrâneos de Nova York.