Entre os muitos sucessos que marcaram os Engenheiros do Hawaii nos anos 1990, “Parabólica” ocupa lugar especial. Lançada em 1992, no álbum Gessinger, Licks & Maltz, a canção foi composta por Humberto Gessinger em homenagem à filha recém-nascida, Clara, e rapidamente se tornou um clássico da música brasileira. Mas, como revelou o pesquisador musical Julio Ettore em vídeo publicado em seu canal no YouTube, a faixa guarda detalhes curiosos — e até algumas contradições.
A origem em Belém?
No livro Para Ser Sincero, Gessinger contou que compôs a letra em um quarto de hotel em Belém do Pará, enquanto observava uma antena parabólica pela janela e sentia saudade da filha. No entanto, os registros de shows da banda não confirmam a versão. Segundo Ettore, os Engenheiros tocaram em Belém apenas em maio de 1989 e depois em janeiro de 1993 — fora do período em que a música foi escrita. “Se Humberto estava mesmo em Belém, não foi com a banda. Pode ter sido em outra viagem, ou simplesmente um equívoco de memória”, aponta o pesquisador.
O verso impossível
Outro detalhe está na própria letra: “Paralelas que se cruzam em Belém do Pará”. Do ponto de vista matemático, retas paralelas nunca se encontram. Mas, para Ettore, a aparente incoerência é parte do estilo de Gessinger. “Ele sempre foi acusado de exagerar nos jogos de palavras. Parabólica é cheia disso, com repetições de sons em ‘pês’ e ‘pás’. A preocupação maior era com a musicalidade do que com a lógica literal”, explica.
A melodia de Augusto Licks
Se a letra nasceu de Gessinger, a melodia de Parabólica veio do guitarrista Augusto Licks. Em meio a tensões internas na banda, ele gravou sozinho uma base acústica no estúdio, experimentando com violões, teclado e percussão eletrônica.
“Quando Humberto ouviu, percebeu que a levada se encaixava na letra que já tinha escrito para a filha”, conta Ettore. O arranjo foi finalizado com baixo e bateria, resultando no hit que atravessou gerações.
Entre afetividade e estranheza
Assim, a música que eternizou a chegada de Clara também carrega contradições: a lembrança geográfica imprecisa, versos que brincam mais com sonoridade do que com sentido, e uma criação musical que surgiu de forma improvisada, em meio a conflitos internos. Para Julio Ettore, é justamente essa mistura que explica a força da obra: “No fim das contas, Parabólica sintetiza o estilo dos Engenheiros: poesia, acaso e estranheza. É por isso que a canção continua tão marcante até hoje.”
Com informações do Whiplash