Em 1987, quando o Brasil ainda engatinhava em sua redemocratização, o Capital Inicial lançava o segundo disco, Independência, título que carregava mais do que uma metáfora política. Era também a afirmação de uma banda que buscava consolidar a identidade após o impacto do primeiro álbum, em meio a uma cena do rock brasileiro que fervilhava com Legião Urbana, Titãs, Plebe Rude e Paralamas do Sucesso.
O disco marca a entrada do tecladista Bozo Barretti, até então produtor do debut do grupo. Sua chegada adicionou camadas de teclados e sintetizadores ao som cru do quarteto, aproximando a banda de uma estética mais elaborada sem abandonar a pegada rock que os caracterizava. O resultado foi um álbum que equilibra agressividade e melodia, refletindo a atmosfera de experimentação dos anos 80.
As letras, como de costume, transitam entre o desencanto social e a inquietação existencial. O título Independência ecoa o desejo de ruptura de uma juventude que cresceu sob o peso da ditadura e agora buscava novos rumos. Canções carregam essa tensão: falam de autonomia, de frustrações políticas e de um país que tentava se reinventar.
Se o primeiro álbum havia apresentado a banda com impacto imediato, Independência serviu para confirmar que o Capital Inicial não era apenas um fruto passageiro da explosão do rock nacional. Com arranjos mais trabalhados e a incorporação de elementos eletrônicos, o disco apontava caminhos que o grupo ainda exploraria nas décadas seguintes.
No contexto da música brasileira, o álbum não teve o mesmo peso histórico de obras contemporâneas, como Cabeça Dinossauro (Titãs) ou Dois (Legião Urbana), mas garantiu ao Capital Inicial um lugar consolidado entre os nomes de destaque da geração. Mais do que isso, representou um grito jovem que dialogava com o espírito de liberdade de sua época.
Independência permanece como registro de uma fase de transição, tanto para a banda quanto para o país. Um disco que, ao mesmo tempo em que buscava afirmar identidade, se tornava testemunho de um Brasil em reconstrução — e de um rock que ainda sonhava em mudar o mundo.