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Música da noite: "Sete Cidades" - entre o mito e o concreto
Na releitura dos Titãs, o lirismo da Legião Urbana ganha ruído poético, revelando novos mapas para uma geração ainda em trânsito.
Por LockDJ
Publicado em 07/09/2025 21:13 • Atualizado 07/09/2025 21:13
Música
"Sete Cidades" foi regravada no álbum "As Dez Mais", lançado em 1999 (Foto: Divulgação)

Há algo de quase mítico quando uma banda da envergadura dos Titãs atravessa o repertório da Legião Urbana. Sete Cidades deixa de ser apenas uma canção do imaginário brasiliense para se tornar também um território simbólico ocupado por vozes que nasceram em outro eixo da cena do rock nacional.


Ao reinterpretar a faixa, os Titãs prestam tributo a Renato Russo e sua cartografia melancólica de espaços e memórias, e atualizam a música como quem redesenha um mapa antigo com novas linhas de tensão.

O encontro é curioso porque a canção traz uma atmosfera quase litúrgica, cheia de imagens poéticas que falam de transcendência e busca interior. Na voz e nos arranjos dos Titãs, esse lirismo ganha corpo em uma estética mais crua, quase urbana demais para o misticismo de origem. É como se a Legião tivesse entregue um diário íntimo, e os Titãs resolvessem transformá-lo em grafite no muro da cidade: ainda é poesia, mas escrita em letras largas e visíveis a todos.

No fim, o cover soa menos como homenagem protocolar e mais como diálogo entre dois espectros de uma mesma geração. Legião e Titãs, cada um a seu modo, sempre foram cronistas de um Brasil que oscilava entre a espiritualidade e o concreto, entre o sonho e a ressaca da realidade. Sete Cidades, na versão titânica, não se perde nesse trânsito: é ruído e devoção, um rito de passagem onde a memória coletiva encontra a reinvenção estética.

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