Google Analystic
Rick Davies: a voz grave que deu chão ao voo do Supertramp
Morte do músico foi confirmada pelo grupo, e encerrou uma trajetória que fez a banda funcionar com a precisão de um relógio britânico.
Por LockDJ
Publicado em 08/09/2025 00:08 • Atualizado 08/09/2025 00:08
Música
Rick Davies representava composições enraizadas no blues e no pop sofisticado (Foto: Reprodução)

Na última sexta-feira (5), em Long Island, aos 81 anos, partiu Rick Davies — tecladista, vocalista e um dos pilares de uma das bandas mais singulares do rock progressivo: o Supertramp. A notícia, confirmada pelo grupo em nota oficial, encerra a trajetória de um músico que nunca esteve exatamente sob os holofotes, mas cuja presença sólida garantiu que a engrenagem sonora da banda funcionasse com a precisão de um relógio britânico.

O alicerce do Supertramp

Se Roger Hodgson foi a face etérea e lírica do grupo, Rick Davies representava o contraponto: voz grave, composições enraizadas no blues e no pop sofisticado, arranjos de piano que sustentavam o voo criativo da banda. Era ele quem conduzia canções como Goodbye Stranger e Bloody Well Right, clássicos que atravessaram décadas em rádios e vinis.

Davies não apenas cofundou o Supertramp em 1969 — após uma breve fase sob o nome de Daddy —, como também foi responsável por manter a chama acesa depois da saída de Hodgson, em 1983. Sem ele, o grupo não teria atravessado os anos 1980 e 1990, adaptando-se a uma cena em mutação sem perder a identidade.

Entre o progressivo e o pop

Nascido em Swindon, Inglaterra, em 1944, Rick mergulhou na música desde cedo, tocando bateria e, mais tarde, encontrando nos teclados sua assinatura artística. No Supertramp, ajudou a moldar um som que mesclava ambição progressiva e apelo pop — fórmula que rendeu álbuns icônicos como Crime of the Century (1974), Even in the Quietest Moments (1977) e, claro, o monumental Breakfast in America (1979), que projetou a banda no cenário mundial.

O homem que ficou até o fim

Enquanto Hodgson seguiu carreira solo, Davies manteve o Supertramp como espaço de continuidade e memória. Mesmo após ser diagnosticado com mieloma múltiplo em 2015, não abandonou os palcos: chegou a se apresentar com o projeto Ricky and the Rockets e liderou a banda até onde pôde, com a dignidade de quem sabia que sua música havia marcado gerações.


O último registro de estúdio do grupo, Slow Motion (2002), permanece como uma lembrança tardia de sua inquietação criativa.

O legado silencioso

Rick Davies não era um rockstar no sentido clássico. Preferia a discrição ao estrelato, mas sua contribuição foi decisiva para que o Supertramp soasse como soou: uma mistura de introspecção e grandiosidade que ainda ecoa em playlists e coleções de vinil. Sua morte não encerra apenas a história de um músico, mas de uma estética que, nos anos 70 e 80, fez do rock progressivo um território aberto às contradições entre arte e indústria, entre lirismo e pragmatismo.

Quinze anos após se despedir dos grandes lançamentos, Davies deixa mais do que álbuns: deixa a lembrança de que, por trás de cada vocal principal, existe sempre uma voz grave sustentando a harmonia.

Comentários
Comentário enviado com sucesso!