Em 8 de setembro de 1888, o corpo de Annie Chapman foi encontrado no distrito de Whitechapel, Londres. Era a segunda vítima atribuída a um assassino que se tornaria lenda: Jack, o Estripador. O caso nunca foi solucionado, e justamente por isso ganhou uma sobrevida que ultrapassa o campo da criminologia e se fixou como um dos grandes mitos urbanos da modernidade.
O nascimento do monstro urbano
Whitechapel era o retrato da desigualdade londrina: ruas escuras, pobreza extrema, prostituição e um sistema policial incapaz de lidar com a violência crescente. Foi nesse cenário que Jack apareceu, desafiando as autoridades e alimentando a imprensa com cartas supostamente escritas pelo próprio assassino.
A identidade de Jak nunca descoberta deu ao personagem um espaço único — não apenas como criminoso, mas como símbolo do medo coletivo que nasce da cidade moderna.
A metamorfose em ícone cultural
Jack, o Estripador, mais do que um assassino, se transformou em narrativa. Ele aparece em livros de não-ficção que buscam desvendá-lo, mas também em romances, quadrinhos e filmes que recriam a Londres vitoriana como palco de mistério e decadência. Sua figura já foi usada como metáfora do mal invisível, da violência contra mulheres e da falência das instituições.
Um dos exemplos mais conhecidos dessa transposição é o filme Do Inferno (From Hell, 2001), dirigido pelos irmãos Hughes e estrelado por Johnny Depp. Inspirado na graphic novel de Alan Moore, o longa transforma o detetive Frederick Abberline em um personagem atormentado que persegue um assassino quase sobrenatural.

Mais do que buscar uma solução para o caso, o filme trabalha o imaginário sombrio que sempre cercou Jack — a Londres enevoada, os becos claustrofóbicos, a sensação de que a verdade nunca poderá ser inteiramente revelada. Atualmente, a produção está disponível no catálogo da Disney+, um lembrete de como esse mito continua circulando nas plataformas de massa.
O desfecho que nunca veio
Parte do fascínio está justamente no que não foi dito. Jack desapareceu sem ser capturado, deixando atrás de si apenas conjecturas e dossiês inacabados. Essa ausência de conclusão transformou o caso em um terreno fértil para teorias, conspirações e reinterpretações. No imaginário coletivo, ele não é apenas um criminoso, mas um fantasma que se recusa a ser exorcizado, um arquétipo do serial killer moderno que antecede todos os outros.
O mito eterno
Passados mais de 130 anos, Jack, o Estripador permanece um símbolo que atravessa o tempo. De estudos acadêmicos a produções pop, ele continua a ser reinventado como metáfora para medos urbanos, misoginia estrutural e o fascínio humano pelo abismo. Seu desfecho inconcluso garante, além da perpetuação da dúvida, a eternidade da lenda.