Há discos que sobrevivem à passagem do tempo porque guardam dentro de si uma ferida aberta. Wish You Were Here, lançado em 12 de setembro de 1975, é a cicatriz sonora que o Pink Floyd tatuou no rock progressivo, meio século atrás.
Se The Dark Side of the Moon já havia transformado a banda em entidade cósmica, Wish You Were Here os devolve ao humano, ao frágil, ao que falta. É o disco da ausência, da indústria que devora seus criadores e, sobretudo, da memória dilacerada de Syd Barrett, que ronda cada acorde como um fantasma familiar.
Shine On You Crazy Diamond, dividida em duas partes como um ritual de abertura e encerramento, é o coração pulsante do álbum — uma elegia para Barrett, mas também um hino à insanidade criativa. Não por acaso, o ex-integrante apareceu de surpresa em Abbey Road durante as gravações, irreconhecível, pesado e distante, como se fosse o próprio espírito da obra encarnado.
Entre essas duas metades brilham três canções que são rasgos de ironia e melancolia:
Welcome to the Machine e
Have a Cigar denunciam com sarcasmo a engrenagem voraz da indústria musical; já
Wish You Were Here, faixa-título, é uma confissão nua, quase íntima, que continua a atravessar gerações com sua simplicidade desarmante.
Cinquenta anos depois, o disco soa ainda mais necessário. Sua capa história, aquele aperto de mãos entre dois homens, um deles em chamas, criada por Storm Thorgerson, resume a condição de um mundo que negocia afetos e queima ilusões. Em um tempo em que a música tornou-se algoritmo e consumo instantâneo, revisitar Wish You Were Here é recuperar a experiência da escuta como ritual.
Não é apenas um álbum, mas um organismo que se recusa a morrer, um eco que continua a perguntar: “Você esteve mesmo aqui?”. O que o torna eterno não é a resposta, mas o vazio que a questão deixa em todos.