Há momentos na música que parecem atravessar o tempo como se fossem pequenas epifanias coletivas. A apresentação de Friday I’m in Love, no palco de Glastonbury, juntando Olivia Rodrigo e Robert Smith, soa como um desses instantes em que gerações se entrelaçam.
Robert, ícone da melancolia oitocentista tardia reembalada em pós-punk e dream gótico; Olivia, herdeira da confessionalidade pop do século XXI, carregando nas letras um diário íntimo de amores e desilusões juvenis. O resultado é menos uma colagem do passado e presente e mais um diálogo estético sobre como a música reitera sua vocação para eternizar sentimentos simples, quase banais, mas sempre urgentes.
A voz cristalina de Olivia, imersa na juventude de seus vinte anos, empresta frescor a um hino que nasceu dos anos 1990 impregnado de cores sombrias. Ao lado dela, Smith aparece como guardião de uma tradição, e sua interpretação carrega o peso de décadas, mas também a leveza de quem sabe que a alegria pode ser um gesto de resistência.
No palco, não há apenas um dueto, mas a síntese de duas formas de olhar o amor: a vertigem adolescente que busca nas palavras um refúgio imediato e a contemplação madura que percebe, com ironia e ternura, que o tempo não anula a intensidade dos sentimentos.
Esse encontro funciona como metáfora da própria música pop: uma teia em que vozes novas e antigas se encontram para redefinir a experiência coletiva. Olívia Rodrigo e Robert Smith cantam juntos e oferecem um ritual de passagem, um testemunho de que a beleza reside justamente na fricção entre gerações.
Friday I’m in Love, neste contexto, torna-se uma celebração da continuidade daquilo que resiste ao tempo porque nunca deixa de falar à nossa condição mais frágil e mais humana.